Mensagem Final
   
   
 

 

 

 

 

 

 


Carlos Coelho – Director da UV

A nossa Universidade de Verão já terminou. Foi encerrada com chave de ouro pelo Presidente do nosso Partido e Primeiro-Ministro de Portugal.

A sua generosidade e a do nosso convidado, perante a qualidade dos participantes da Universidade de Verão de 2004, permitiu que mesmo depois do encerramento formal da UV ainda fosse possível trocarmos algumas impressões e fazermos algum debate.

Vamos assim alternar as perguntas dos nossos participantes aos nossos convidados desta noite: o Dr. Pedro Santana Lopes e do Dr. Juan Luís Cebrian. E de acordo com as regras, o primeiro a fazer a pergunta esta noite é o grupo encarnado, pela voz da Joana Santos.

 

Joana Santos

Boa noite, boa noite a todos os presentes, em especial o Dr. Pedro Santana Lopes e a Juan Luis Cebrian. Em meu nome e em nome do grupo encarnado a pergunta que gostaria de colocar é a seguinte:

Dr. Pedro Santana Lopes, como um dos políticos mais mediáticos do nosso país, quais os conselhos que nos daria para preservação da nossa imagem como futuros políticos?

 

Carlos Coelho

Grupo roxo, Paulo Figueiredo.

 

Paulo Figueiredo

Boa noite Sr. Primeiro-Ministro de Portugal e Presidente do nosso Partido, boa noite também ao Sr. Dr. Juan Luis Cebrian.

Sr. Primeiro-Ministro, ouvimo-lo com atenção, falou no novo ciclo, falou no novo tempo, falou no novo Portugal e falou também numa nova Europa.

Nós aqui, que somos todos novos, o que é que podemos fazer para o ajudar a contribuir para um Portugal novo? Muito obrigado.

 

Pedro Santana Lopes

As duas perguntas são complicadas, porque as conversas são como as cerejas. Perguntas sobre estes temas levam-nos muito longe. Sobre a primeira, que conselhos posso dar? Sendo eu um dos políticos mais mediáticos de Portugal, julgava que eram mais… (RISOS, PALMAS) (estou a brincar, como dizia a minha avó, presunção e água benta cada um toma a que quer). Mas o conselho é muito mais difícil do que parece, porque só há uma receita, penso eu: ser autêntico. Qualquer outra receita falha.

Eu tenho sido autêntico na minha vida, acho eu, com qualidades e defeitos como todo o ser humano. Mas devemos ser autênticos nas qualidades e nos defeitos. Quando depois se assumem responsabilidades maiores, tem que se tomar bem conta dos defeitos e puxar pelas qualidades. Mas temos que ser iguais a nós próprios: não sei dar outro conselho. Sempre me fez impressão ver na política (acho que antes isso compensava mais) alguma montagem na imagem. Eu não acredito nisso, embora perceba que temos que adequar o nosso estilo de intervenção às funções que temos.

Eu tenho tido a sorte e o privilégio na vida de poder experimentar essas várias obrigações. Fui Presidente de Câmara, o que dá uma determinada margem ou estilo de actuação. Fui membro do Governo durante oito anos, estive como Deputado na oposição. Fui também Deputado ao Parlamento Europeu, onde é preciso muito saber e muito jeito - o Deputado Carlos Coelho, Director da Universidade, tem e eu não tive. Estive lá dois anos e pedi para regressar à base. Agora, como Primeiro-Ministro, as pessoas têm dito muito que estou à procura de um registo próprio. Há quem diga: “não está igual a si próprio”. Outras dizem: “tem que voltar a ser igual a si próprio”. Quando falo mais, dizem “está igual outra vez a ele próprio”.

Porque nós temos que ser autênticos. Eu sei as obrigações que, por exemplo, o cargo de Primeiro-Ministro me impõe, os cuidados que tenho que ter no que digo. Mas nunca devemos ter cuidados a mais que nos levem a não dizer a verdade, a não sermos autênticos. É o único conselho, não sou capaz de dar outro. Também já tive responsabilidades noutro sector, (quando me perguntou sobre ser mediático), mas para se ser conhecido basta passarem uns meses pelo futebol. Ficam conhecidos do país todo, não é? A política é assim.

É engraçado: eu antes de ter passado uns meses pela responsabilidade dum clube de futebol, as sondagens diziam que era conhecido por cerca de 60% do País, e já estava há cinco anos no governo. E como trabalhei com o Dr. Sá Carneiro, (comecei aos 23 anos), já estava na política há muitos anos, como este Sr. está e outros que aqui estão. Mas quando passei pelo futebol fiquei a ser conhecido por 99% dos portugueses, 99,9% era o que davam as sondagens. É assim a vida.

A partir daí, com a taxa de notoriedade que isso dá, confesso que facilita o contacto com as pessoas - o ser-se conhecido. Mas quando conquistei a Figueira da Foz, vi que não é por se ser conhecido que se ganha. Já pessoas muito conhecidas concorreram a Câmaras e perderam. Olha, eu lembro-me aqui ao pé, o Nicolau Breyner que se candidatou a Serpa. Às vezes julgamos que só por seremos muito conhecidos ganhamos. Não, o povo sabe muito bem ver quem é que acha que está preparado para trabalhar ou não. Sabe muito bem ver isso.

Se reparar, hoje em dia há muitas pessoas que antes criticavam o facto de eu, como político, às vezes ter feito intervenções noutras matérias, mas veja que já todos os comentadores falam de tudo, sobre o desporto (ténis, futebol ou basquetebol ou seja o que for). Mas as pessoas sabem que uma pessoa tem que ser natural, eu não sei ver as coisas de outra maneira.

Repito que o conselho é ser autêntico. As pessoas dizem que na televisão há uma coisa que nos trai, que são os olhos, o olhar. Eu acho que não é só o olhar, as pessoas lêem nos olhos, mas se o que está nos olhos não bate certo com o que está aqui dentro, e com o que está entre os olhos e a expressão da sua boca, quando se fala, nota-se imediatamente, e o povo percebe.

Eu costumo dizer que gosto mais de ouvir as pessoas pelos olhos do que pela boca, mas têm de bater certo as duas coisas. Se não batem, nota-se logo. Portanto o conselho que eu dou para a imagem do mediatismo é ser autêntico, ser igual a nós próprios.

Depois, na vida há ganhar e há perder. A vida é assim e a democracia é assim. Não sei dar outro conselho. E depois há a sorte, é preciso ter sorte. Hoje há um jornalista do Expresso que diz que eu tenho uma estrela da sorte. Ter sorte dá muito trabalho, dá muito trabalho. E ter sorte também ajuda.

É preciso humildade sempre. E saber sempre que o poder chega e parte rapidamente. Eu costumo dizer que não sou Primeiro-Ministro, estou Primeiro-Ministro. Já na Câmara dizia sempre, “não são vereadores”. Detesto ver as pessoas quando me aparecem já com ar importante, já não estão iguais ao que entraram. Sabem aqueles filmes em que os extraterrestres chegam à terra e depois possuem organismos doutros seres? Assim parecem algumas pessoas quando chegam à política, de repente já parecem não elas mas um Vereador, um Ministro, já com ar de Ministro. Está a ver? Acho isso horrível, é sinal que já deixou de ser quem é, e que perderam a noção de que o poder tal como chega, um dia parte sem darmos por isso e voltamos à vida normal.

Por isso, essa humildade. Quem tem fé dá sempre graças a Deus. Eu tenho fé, portanto quando tenho essa tal estrela da sorte, (que dá muito trabalho), nunca me esqueço de agradecer e lembrar-me que as coisas dependem de mim, mas não só de mim, dependem principalmente de ser capaz de fazer os outros acreditarem no que eu sinto e no que eu penso.

Em relação à outra pergunta que foi posta, o que podem fazer para ajudar? Gostarem da política, participarem. Eu sou político há vinte e tal anos, comecei a trabalhar com Francisco Sá Carneiro. Há quem não goste que eu fale nele mas eu gosto de falar. Não é por ser herdeiro mas porque ele era um político fantástico. Julgo que foi o único homem ao pé de quem me senti intimidado, não me sentia à vontade. Tinha aquele olhar, aquele magnetismo impressionante, e ele gostava tanto da política. E a política tem um lado lúdico. Nós temos que ter prazer naquilo que fazemos, sentirmo-nos realizados.

Está imprensa aqui na sala? Só local e regional? Então fica combinado que é em off. Não que seja uma história proibida.

Quando o Dr. Durão Barroso me perguntou a opinião sobre a sua ida para a Comissão Europeia, (e me disse logo que achava que devia ser eu a substitui-lo), a primeira pergunta que eu lhe fiz foi “sentes que vais ser minimamente feliz, tu e a tua família? Há alturas na vida em que temos que seguir trajectórias por serviço, serviço militar ou outros, dedicação a causas, em que temos de ir mesmo contrariados, mas tu não tens isso”, ele disse “acho que sim”, e eu disse “então, por Portugal, não podes perder essa oportunidade”.

Mas como tudo na vida é preciso sentirmo-nos minimamente realizados. E tem-me custado ver a juventude tão longe da política. Porque eu comecei na política muito novo e adoro a política, gosto da política, acho que a política é lindíssima quando é feita como deve ser. É óptimo estar na oposição e lutar com as ideias para substituir os que são governo. E é óptimo poder governar e poder mudar a vida das pessoas.

A política é linda nisso, e o que me tem custado todos estes anos é ouvir dizer “políticos nem vê-los”, isso é o que me tem custado. Portanto podem ajudar vindo para a política. Depois, no dia a dia, as vossas ideias vão chegando: o partido tem a obrigação de criar os mecanismos de participação. Esta Universidade é um exemplo, informação ascendente, descendente, trabalhamos todos juntos. Vocês sabem que eu sempre defendi a separação de funções entre Partido e Governo. Não é possível hoje em dia, não vale a pena, mas não abdiquei no fundo dessa perspectiva.

O maior desgosto que eu terei um dia quando saia destas funções é chegar à conclusão que tinha deixado o partido atrofiado por causa do governo. Eu quero o contrário. Eu não me ofendo, não me aborreço, se disserem assim, “temos aqui uma ideia que o Sr. não teve”, “temos aqui uma crítica a fazer”, “olhe, o Senhor corrija”.

Eu não gosto muito de fazer elogios a pessoas presentes e sei que vai haver um congresso da Jota, (não tomem isto como política) mas o Jorge Nuno tem estado na liderança da Jota de uma maneira que me agrada, com montes de presença. O Jorge é um homem livre, sabe dizer ao partido o que pensa, o que sente, como outras pessoas da Jota. Concorda, discorda, mas com elevação, com respeito, com sentido de solidariedade. Temos que ter a noção que pertencemos todos à mesma família.

Como podem ajudar? Venham para a política, participem nisto a sério, mas nunca percam também a vossa vida profissional. Tenham sempre uma alternativa. Eu estou na política há uma data de anos, portanto não sou grande exemplo para isso. Mas, sem ser advogado, já dei aulas em universidades, se sair da política não morro à fome, já despejei camiões TIR, louça, tudo quando era bolseiro na Alemanha, tudo para viver, para comer, não morro à fome. Isso é importante.

Agora venham para a política, venham renovar isto, precisamos de gente, mais gente, melhor, bem formados, e, digam por aí que a política até é bonita se for bem feita - como tudo na vida.

Quem a estraga são os que não percebem o que ela é. Está bem? (PALMAS)

 

Deputado Carlos Coelho

Bem, vamos agora passar para mais dois grupos. As perguntas agora são para Juan Luís Cebrian e, pelo grupo Castanho, tem a palavra Daniel Fangueiro.

 

Daniel Fangueiro

Muito boa noite Dr. Juan Luís Sebrian e Dr. Pedro Santana Lopes. A minha pergunta é a seguinte: se fosse jornalista em Portugal, o que escreveria sobre o nosso Primeiro-Ministro?

 

Deputado Carlos Coelho

Pergunta interessante mas muito embaraçosa (RISOS). Grupo azul, Nuno Sousa.

 

Nuno Sousa

Muito boa noite a todos. A minha pergunta também é simples e extremamente directa. No mundo globalizado, como falou há pouco, onde a informação neste momento chega a casa das pessoas através do computador e não só,

Deputado Carlos Coelho

Oh! Nuno mais devagar, mais devagar.

Peço desculpa, senão temos que fazer tradução simultânea.

 

Nuno Sousa – Grupo Azul

Esta semana não estávamos habituados a ter aqui pessoas que falassem espanhol.

No mundo globalizado onde a informação chega a casa das pessoas através do computador, através do telemóvel, através dos jornais e da mensagem que se passa através da palavra, (continuo a achar que é a forma de comunicar mais eficaz em política e na vida), acha que essa globalização da informação fez com que as pessoas se afastassem das sedes partidárias que são sedes por excelência para discutir ideias?

 

Juan Luís Cebrian

Si fuera periodista en Portugal diría del primer-ministro lo mismo que siendo periodista en España. No diría cosas diferentes de él aquí que en España. Entonces, pudo decir lo que digo en España de él, que es lo que diría en Portugal. Yo creo que hay dos cosas de su discurso político que me han interesado y que le he dicho y que tienen mucho que ver con la política española. La primera es el talante y dialogante que ha demostrado y su rechazo de las polémicas personales.

En España, hemos tenido autentico odio entre los partidos políticos y se han cometido excesos terribles entre el diálogo político, injurias, calumnias y todo o tipo de excesos, producidos por los políticos, no me refiero ahora a los producidos pela prensa y los medios de comunicación. Yo creo que Rodríguez Zapatero, que es del Partido Socialista, ha llegado al poder, en gran medida, porque ha demostrado un talante nuevo, diferente. Un talante mucho más dialogante en los temas del nacionalismo vasco o catalán, en los temas más controvertidos de la convivencia española. Ha demostrado un talante diferente, ante la agresividad y al odio que se respiraba en el diálogo entre los partidos.

Lo segundo, lo ha dicho el también. Dice que quería ser autentico en los medios de comunicación. En España, el Partido Popular ha perdido las elecciones por mentir. Esto es una cosa verdaderamente sorprendente, porque todo el mundo dice que los políticos son todos iguales, y todos mienten. Bueno, unos mienten más que otros, por lo menos, y yo creo que es muy importante decir lo que uno piensa y la gente le cree a uno cuando uno dice lo que uno piensa. Y la gente percibe mucho las mentiras o las falsas promesas de los políticos. Yo creo que Pedro Santana es un hombre autentico. Dice lo que cree y lo que piensa y yo creo que eso es un valor, en política y en la vida en general absolutamente básico, si uno quiere obtener la confianza de los demás. Por lo tanto, yo diría que es un hombre que no miente y que inspira confianza a los electores y que es un hombre de diálogo y yo creo que ambas cosas las puedo decir en Portugal y en España.

La segunda pregunta era... Perdón, no me recuerdo bien...

Yo creo que los partidos políticos son como los periódicos, son un invento muy antiguo y, por lo tanto, bastante obsoleto, como decimos. Los políticos y los periodistas tenemos motivos para preocuparnos, pues podemos estar en una profesión que está mal organizada en este momento. Como decían, los partidos y los periódicos, en su actual configuración nacen a la vez, con las revoluciones burguesas, y forman parte del sistema de la democracia representativa.

Entonces, naturalmente, los sistemas de la globalización apartan a la gente de los partidos tal y como los conocemos. Lo que nos tenemos que preguntar es si eso es bueno o si eso es malo porque, a lo mejor, no es tan malo y que tienen que hacer los partidos, se la culpa es de los medios de comunicación y de la globalización o la culpa es de los partidos, o de los periódicos, porque los apartan también de los periódicos. Tenemos el mismo problema.

A mí me parece que los partidos políticos siguen siendo esenciales en la organización de la democracia representativa, que la democracia representativa es la única democracia… Yo no creo en la democracia directa en este tipo de cosas, pero que tienen que ser conscientes de que ha cambiado la organización social y que, desde luego, es mucho más fácil llenar un estadio de fútbol a un cantante de moda o a un futbolista importante que a un líder político. El cantante lo llena el o el equipo de fútbol, el líder político muchas veces tiene que movilizar toda la clase de mecanismos para poder arrastrar a los militantes o a los simpatizantes.

Entonces, yo no creo que la globalización esteja apartando a la gente de los partidos, creo que los partidos se han apartado mucho de la gente, de sus preocupaciones autenticas e reales. No sé en Portugal… Supongo que en Portugal también, porque no creo que Portugal sea una excepción. Se han convertido in maquinarias para obtener el poder… para obtener y para mantenerlo lejos de ser en formas de expresión colectivas de los deseos y de los intereses de las personas. E por lo tanto, vosotros que creen ser nuevos y que sois nuevos, yo creo que tenéis la responsabilidad de acercar vuestro partido a las preocupaciones de los votantes y de los electores.

 

Carlos Coelho

Para questionar o Presidente do PSD, a Rita Oliveira do Grupo Cinzento.

 

Rita Oliveira

Boa noite Senhor Primeiro-Ministro, boa noite a todos.

O Grupo Cinzento gostaria de saber o que é que o Governo pensa fazer para melhorar a qualidade do Ensino Superior, de forma a podermos competir com as melhores Universidade Estrangeiras. Obrigada. (PALMAS)

 

Carlos Coelho

Muitos parabéns. Como não podemos manter o nosso Primeiro-Ministro entre nós durante muito mais tempo, temos de saber fazer perguntas tão simples como esta! (RISOS E PALMAS). A palavra para o Rodrigo Neiva Lopes, Grupo Rosa.

 

Rodrigo Lopes

Boa noite, o Grupo Rosa dá-lhe as boas vindas à UV.

A nossa questão prende-se com o passado do nosso partido, nomeadamente com o nosso fundador, Francisco Sá Carneiro.

Uma vez, numa reunião local da minha secção, a secretária pessoal de Sá Carneiro, Conceição Monteiro, referia que ele era diferente. De alguma forma ele era diferente.

V. Exa. considera que pode também vir a ser tido como um político diferente? É esta a nossa pergunta. Obrigado. (PALMAS)

 

Pedro Santana Lopes

Bom, vamos falar do Ensino Superior. O que se tem de fazer no ES é o que se tem de fazer em quase tudo neste Pais.

A nossa grande batalha é a da qualidade. Nós tivemos anos a investir nas estruturas e equipamentos: mais escolas, hospitais, centros de saúde, auto-estradas, centros culturais, universidade, etc.

E agora o que importa é ganhar a batalha da qualidade (a qualidade é um termo vago, genérico). É a batalha da exigência, sermos de facto bons. É uma luta pela excelência.

No ensino superior temos de adequar os cursos à realidade do mercado de trabalho. Sabemos bem as áreas em que há carências em Portugal e as em que há excesso.

Ainda ontem, em Conselho de Ministros, a Senhora Ministra do Ensino Superior disse que tinha uma boa notícia para dar. Como é raro termos boas notícias (RISOS) eu pedi-lhe para a anunciar. Então a boa notícia era que a média de acesso na Faculdade de Medicina tinha passado de 18 para 17.9 (RISOS), ao que eu disse que em matéria de boas notícias estávamos pouco exigentes (RISOS).

Mas, como eu dizia, para além de ser urgente adaptar o ensino às necessidades dos caminhos de desenvolvimento da sociedade, é também importante perceber que não há Universidade sem investigação, não há Universidade sem desenvolvimento do espírito científico.

Eu que sou duma Universidade “Clássica”, a chamada Universidade “Clássica” de Lisboa, e que fui assistente na sua Faculdade de Direito, na Faculdade de Direito da Lusíada, e da Moderna, que dei aulas em privadas e na pública, não tenho pejo em dizer que, nalguns casos, as privados dão exemplos às públicas, no que respeita a esse caminho da investigação.

A Academia, o espírito académico, pressupõe por natureza essa obrigação de investigar, de descobrir, de criar valor acrescentado no saber.

Acho que a maneira de tornar as universidades portuguesas competitivas com as europeias é incrementando esse espírito de “research”, de investigação, e fazê-las trabalhar em rede. Isso é importante.

Noutro dia, em conversa com o Primeiro-Ministro francês, o Senhor Jean-Pierre Rafarin, falávamos da próxima Cimeira que vai ter lugar em Dezembro. O tema é o saber e a competitividade. E falávamos da importância das Universidades, como a Universidade de Coimbra e outras, que têm muito saber e muita história mas não souberam dar o salto da internacionalização e do trabalho em rede (não me estou a referir a essas universidade em concreto), como as universidades do mundo anglo-saxónico, como Harvard, Cambridge, Oxford, Yale, Princeton, tantas, onde a investigação está sempre presente.

E no próximo quadro comunitário de apoio, será dada importância à investigação, investigação para o desenvolvimento, trabalho em rede entre as várias instituições de cada país. Mas quem pense que as verbas a atribuir serão viradas para dentro de cada país está a laborar num erro. Haverá componentes em que isso pode acontecer mas nunca pode ser considerado isoladamente.

Um outro ponto: tem de haver regras para o corpo docente e discente. Certamente que as escolas têm de ter responsabilidade de gestão, mas quem progride na carreira académica tem obrigações sempre ao longo da sua vida.

Quem chega a catedrático não pode deixar de publicar os seus ensinamentos, as suas sebentas, demonstrar que continua a investigar. Ou seja, o docente universitário tem de ser o primeiro a dar o exemplo ao formando. E acontece em algumas universidades (não todas) essa deterioração do espírito universitário na sua essência.

Agora, não vou entrar pelas propinas, necessidades de financiamento, etc, pois não é por aí que as nossas universidades serão verdadeiramente competitivas.

A segunda questão que me foi posta: se eu também penso vir a ser um governante diferente? Bem, vou tentar. Mas não com a preocupação da diferença, mas sim de ser igual a mim próprio.

E como disse lá em baixo, quero que todos saibam que eu irei a direito naquilo que acho que é a minha obrigação. Portanto, não vou governar a pensar em eleições. Se quiserem eleger outro, elegem. Palavra de honra, estou convencido que essa seria a melhor maneira de perder as eleições.

Hoje em dia diz-se que o Dr. Sá Carneiro foi um político diferente, porquê? Porque as pessoas sabiam o que podiam esperar dele, o que podiam contar com ele.

Ele tinha uma característica fantástica: não ter medo. A propósito, há dias, na sequência de uma carta enviada pelo Partido a todos os militantes, o Pacheco Pereira publicou uma análise psicológica dizendo que eu tinha a mania de falar do não ter medo e sobre o que é que isso queria dizer. A sua análise caiu pela base, pois foi o Secretário-Geral que preparou essa carta (RISOS). Ele preparou uma minuta da carta à qual eu apenas dei um toque pessoal. E eu li interessadíssimo esse texto do Pacheco Pereira.

Portanto, nesse pormenor de não ter medo e ser corajoso, não tenho intenção de ser diferente.

Uma coisa que eu não gostava que dissessem de mim quando chegasse ao 60 anos era que não tinha assumido as minhas responsabilidades. Perante a família, perante os filhos, perante os nossos amigos, perante os nossos erros.

Deixem-me contar uma história do Dr. Sá Carneiro. Ele estava a ser caluniado pelo PCP (ainda hoje há paredes pintadas a caluniá-lo). E eu, que trabalhava no gabinete dele, aconselhei-o a ir à televisão responder, porque essa campanha do PCP poderia ser uma desgraça. E o Dr. Sá Carneiro disse: “não! Enquanto for o PCP a dizer isto eu não vou responder”. Passado algum tempo, o PS, pelo Dr. Soares, veio também pôr em causa a integridade do Dr. Sá Carneiro.

Ele então chamou-me e disse: “você que estava sempre a dizer para eu responder, quero dizer-lhe que agora, sim, vou responder. Que o PCP me calunie, as pessoas não esperam outra coisa (eram aqueles anos difíceis), mas que o PS, que é um partido da democracia, o faça, então eu já tenho de me defender”.

E foi responder à televisão, com o Conselho de Ministros todo à sua volta.

E para não contar só uma história dele, deixem contar uma do Prof. Cavaco Silva, a propósito de se ser diferente.

Isto para mim é um farol sempre para a minha governação. Eu era Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, em 87, e um dia chegámos ao Conselho de Ministros (estávamos a 10 dias das eleições) e o Prof. Cavaco Silva põe em cima da mesa uma proposta de aumento dos preços da gasolina. Ficámos todos a olhar uns para os outros (menos o Ministro da Indústria e o das Finanças, que sabiam).

E o Prof. Cavaco Silva disse-nos que se estávamos convencidos que era a medida certa, tínhamos a obrigação de a tomar. E se estávamos convictos, não seria por isso que perderíamos as eleições.

Uns dias depois ganhámos as eleições com 51%.

Devo dizer que quando ele apresentou aquilo, julguei que seria uma hecatombe. Eu tinha cerca de 29 anos, na altura. Foi uma lição de vida. Estamos sempre a aprender.

E aprendi também que a verdade, na política como na vida, compensa sempre. Não podemos ser ingénuos mas temos de ser responsáveis.

E sobre o Prof. Cavaco Silva também se diz que é um político diferente. Um Primeiro-Ministro melhor que muitos outros.

Voltando à pergunta, ser diferente é ser igual a si próprio. Acho que é isso. (PALMAS)

 

Deputado Carlos Coelho

Agora duas perguntas a Juan Luís Cebrian. O primeiro grupo é o amarelo: Ricardo Lopes.

 

Ricardo Lopes

Muito boa noite a todos. Dr. Cebrian, na sua opinião quem ganhou a eleições: Zapatero ou o atentado na estação de comboios em Madrid. (PALMAS)

 

Carlos Coelho

E antes de dar a palavra ao grupo da casa, o laranja, em nome da UV e dos nossos convidados de hoje, queria agradecer (como faz parte das nossas regras), a hospitalidade do grupo laranja por nos ter recebido na sua mesa. (PALMAS).

Pelo grupo laranja, Rui Robalo.

 

Rui Robalo

Boa noite Senhor Primeiro-Ministro e Dr. Juan Luís Cebrian, o grupo laranja gostaria de fazer a seguinte pergunta. Dadas as relações que se estabelecem entre a política e o jornalismo, o resultado dessa relação não poderá pôr em causa a necessária independência e isenção de cada uma dessas áreas?

Obrigado. (PALMAS)

 

Juan Luís Cebrian

¿Quien ganó las elecciones en España? Las elecciones… Yo no sé si el primer-ministro se ha dado cuenta todavía de esto… Las elecciones no se ganan, se pierden y yo creo que esta es la lección fundamental que todo político tiene que aprender, que es una lección de humildad e yo proclamaba la humildad para los políticos. Las elecciones las perdió Jose Maria Aznar, que no se presentaba a ellas, como el mismo dijo en la televisión, pero es verdad que había una tendencia de fondo a mejorar del Partido Socialista. Las encuestas no daban una victoria al Partido Socialista, daban un empate, por una ligera ventaja del Partido Popular y solo Rodríguez Zapatero, del Partido Socialista, pensaba que el iba a ganar las elecciones.

Un de los problemas que tiene el gobierno español tiene ahora es que los que se han ido no pensaban que se iban a ir y los que han llegado no pensaban que iban a llegar y por lo tanto, esta todo un poco confuso todavía. Pero las elecciones fueran perdidas por el Partido Popular y concretamente por José Maria Aznar, porque no supo dar respuesta a los atentados del 11 de Marzo, de los cuales se cumplen 6 meses y porque dio la impresión, seria o no verdad, pero transmitió la impresión de que el quiso los atentados electoralmente. No convocó al pacto anti-terrorista, no convocó a los partidos políticos, la manifestación la convocó él personalmente, incluso sin consultar a su gobierno y a su partido.

Incluso fue una decisión personal, la pancarta de la manifestación que era contra ETA, era en defensa da la constitución, que no tiene nada que ver con Al-Queda, la redacto él personalmente… Digamos que hizo un uso personal de una tragedia tan terrible como la que sucedió el 11 de Marzo. Y la sensación de la manipulación de la información que el gobierno transmitió y de que, efectivamente, en un momento tan trágico para la comunidad como la perdida de 200 vidas humanas y más de mil heridos, de que el gobierno trata de utilizar eso electoralmente, fue lo que les hizo perder las elecciones. Probablemente, si hubieran hecho un tratamiento diferente, las hubieran ganado y holgadamente. Pero, por lo tanto, yo no creo ni que las ganara la maquinaria del Partido ni que las ganara los medios de comunicación y mucho menos que las ganara yo, como dicen algunos del Partido Popular.

Ojala las ganara…

La otra pregunta era la relación de los políticos y los periodistas. Bueno, es una relación que en España e yo creo que en este país, después de la revolución también, ha sido muy intensa, porque en los momentos de transito de revolución, los políticos y los periodistas, los políticos democráticos, y los periodistas suelen querer lo mismo, que es la libertad, la democracia y hay puntos de contacto muy, muy fuertes, y también porque los periódicos forman parte del sistema político, como he dicho antes, y los periódicos sirven de vehiculo à la expresión de ideas políticas, etc. Por lo tanto, hay una relación siempre peligrosa o incestuosa.

Pero a mi no me preocupan tanto los periodistas que quieren ser políticos, que hay muchos, como los políticos que quieren ser periodistas, que hay muchos más, y que tratan de estar diciendo constantemente que es lo que es interesante. Es muy frecuente que un político diga “es que están publicando cosas que no interesan”. Pueden no interesar, pero son los periodistas los que tienen que decidir se interesan o no. Entonces, yo creo que tanto en Portugal como en España, precisamente por esta unión excesiva, a veces, de políticos y periodistas y de periodistas que llegaran a políticos, como el mi amigo Balsemão el primero, pues a veces se confunden los campos y eso leva también a que, a veces, amistades de toda la vida se rompan, cuando el político obtenga el poder, porque cuando está en el oposición es siempre, siempre, muy amigo de los periodistas. De toda la manera, los periodistas tienen una función diferente a de los políticos y yo creo que cualquier buen periodista sabe que es lo que tiene que hacer, independientemente de su ideología y de sus amistades personales.

 

Carlos Coelho

Antes de prosseguirmos, e aproveitando ainda a presença do Senhor Presidente do Partido, não posso deixar de fazer referências que têm pouco de político mas muito de pessoal e institucional.

São, sobretudo, agradecimentos.

Em primeiro lugar à JSD. Esta Universidade de Verão não se teria realizado se não fosse o apoio da JSD. Foram muitas as pessoas da JSD que ajudaram, mas particularmente o Jorge Nuno e a Zita, que ajudaram muito a conceber, a pensar, a desenhar as soluções.

Agradeço também à equipa de Avaliadores: O Gonçalo Capitão, o Alexandre Picoto e a Zita, pelo esforço que fizeram e vão fazer ainda na fase subsequente.

Agradeço ainda aos cinco Conselheiros, que fazem a ligação entre a Direcção da UV e os Grupos e têm um papel essencial no sucesso da iniciativa.

Agradeço também à equipa do JUV, ao Paulo Colaço e ao Júlio Pisa, que fizeram aquele jornal que às 2 ou 3 da manhã nos entrou por debaixo da porta dos nossos quartos e trazendo as novidades fresquinhas e tudo o que tinha acontecido – e que daqui a pouco tornará a entrar com a reportagem do dia de hoje e do encerramento (RISOS).

E também tivemos uma revista de imprensa, a cargo do Ricardo Lopes, com as notícias dos jornais portugueses e internacionais (Le Monde, Financial Times, El Pais e Agence Europe).

Um agradecimento também a todos aqueles que trabalharam nos audiovisuais. Os que estiveram mais empenhados nas assembleias viram a importância que os nossos meios tecnológicos tiveram para o sucesso da iniciativa. Também a nossa rede informática funcionou de modo impecável.

E agradeço particularmente aos que trabalharam mais de perto comigo, a Vera, o Duarte, a Lena e a Tuxa.

A todos, sem excepção, quero agradecer.

Permitam uma palavra especial ao Secretário-Geral Adjunto, Matos Rosa, que foi uma ajuda preciosa para o desenrolar da UV.

E pelo apoio, pelo acolhimento, um abraço ao Sr. Presidente da Câmara Municipal de Castelo de Vide, Dr. António Ribeiro.

Muito obrigado.

(PALMAS)

Sr. Governador civil, Sr. Doutor Bettencourt, representante do nosso principal patrocinador, senhores dirigentes distritais e concelhias do PSD, esta foi a Universidade de Verão de 2004.

Muita gente trabalhou, mas como tive ocasião de dizer, o sucesso desta universidade, que viu o seu estatuto reconhecido pela iniciativa do presidente do Partido, de associar ao encerramento desta universidade a rentrée do ano político, reside naqueles que a fizeram: a selecção nacional que aqui temos, a Geração Portugal, os participantes da Universidade de Verão 2004. (PALMAS - OVAÇÃO DE PÉ)

Última ronda, grupo verde, Miguel Côrte-Real.

 

Miguel Corte-Real

Em nome do grupo verde, queria dar as boas noites ao Sr. Primeiro-Ministro, ao Sr. Juan Luis Cebrian, à mesa e a todos.

Queria fazer só um pequeno aparte, se me permitem, em nome do grupo verde e penso que em nome de todos os alunos desta Universidade de Verão, queria agradecer ao nosso Director, Carlos Coelho (OVAÇÃO DE PÉ), pelo que nos ensinou, e pelas muitas vezes que nos fez rir, pelo bom humor, e aceitou algumas piadas. Agradecer aos avaliadores, aos conselheiros, ao médico que muito me ajudou esta semana (PALMAS), e já que estou a agradecer, também agradeço aos meus colegas que me aturaram, e a todo o pessoal do hotel que foram fantásticos. (PALMAS)

Agora a pergunta: não sei se o vou deixar em maus lençóis.

Como Presidente do Partido, vou-lhe dizer três nomes, Cavaco Silva, Pinto Balsemão ou Marcelo Rebelo de Sousa! Com quem é que gostaria de ir lanchar a Belém? (RISOS, PALMAS)

 

Deputado Carlos Coelho

Pelo grupo bege, João Aurélio.

 

João Aurélio

Boa noite a todos, Sr. Primeiro-Ministro a nossa pergunta é a seguinte:

Que projectos tem o seu governo para o combate à interioridade e à desertificação.

Mais em concreto, qual é o estado de saúde das infra-estruturas estratégicas do distrito de Beja. Obrigado.

 

Pedro Santana Lopes

Eu sobre a segunda questão, o estado de saúde das infra-estruturas estratégicas do distrito de Beja, não lhe posso agora responder em pleno.

Posso-lhe, no entanto, falar, por exemplo, do aeroporto de Beja e as condições do seu aproveitamento para a economia nacional, para um sector muito importante: o turismo e a capacidade de servir uma região (não só do território Português, também do território Espanhol).

Mas sei que o distrito de Beja, como a generalidade do Alentejo, como a generalidade do interior, naturalmente precisam de mais investimentos, investimentos estratégicos que garantam a ultrapassagem do que digo, há muitos anos, ser um dos dois grandes problemas do país.

A cada vez mais irracional ocupação do território tem algum paralelismo, como acontece, no caso da Grécia, mas que é a causa de muitos dos problemas, que surgem depois na vida dos portugueses.

Tem estado previsto para 2015, (ou seja daqui a dez anos), que 75% da população esteja concentrada nas áreas urbanas de Lisboa e do Porto.

Eu não vou falar da deslocalização das Secretarias de Estado, (que foi uma medida simbólica - Secretaria de Estado da Juventude em Braga, a Secretaria de Estado da Administração Local em Coimbra, a Secretaria de Estado do Turismo em Faro, a Secretaria de Estado da Educação em Aveiro, a da Agricultura na Golegã). Pode ser dito que é, por enquanto, meramente simbólico, mas eu vou tendo notícias das consequências que isso tem no sentir das populações.

Ontem tive uma reunião com as distritais do partido, e sei o que me disseram sobre o modo como essa medida tem sido acolhida. E eu acredito que a interioridade, aquilo que tem acontecido nesse desequilíbrio da ocupação do território, só pode retroceder se canalizarmos de facto, investimentos, equipamentos e infra-estruturas, serviços, para as diferentes zonas do território português. Eu sou frontal: acredito nas virtudes das vias de comunicação, mas o que considero fundamental é que demos condições, por exemplo aos funcionários públicos, estímulos, e estamos a trabalhar neles, para que exista a devida mobilidade no território.

Mas principalmente, para que as populações sintam que têm razões para se fixarem nos seus locais de origem.

Fui Presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz quatro anos, como sabem, fui presidente do conselho da região centro, e já tinha sido membro do governo central durante sete anos, e nunca tinha tido a informação pelos canais próprios da administração, das carências básicas em termos de vida colectiva de um concelho como a Figueira da Foz.

Eu construí lá o Centro de Artes e Espectáculos: é um exemplo típico como uma infra-estrutura e um equipamento cultural pode ajudar a mudar um bocadinho a face de uma terra. Se há orgulho que eu sinto hoje é quando vejo os anúncios na televisão de grandes produções internacionais que vêm a Portugal: Lisboa, Pavilhão Atlântico ou Coliseu, Porto, Coliseu do Porto ou outros e o Centro de Artes e Espectáculos da Figueira de Foz. E sei que as pessoas daquela região ficam contentes. Agora o Teatro São Carlos vai estar, penso que três meses, com a sua companhia no Centro de Artes e Espectáculos da Figueira.

O principal problema das pessoas nas outras zonas do território (que não Lisboa e Porto) é terem condições de vida, quer de trabalho, quer de entretenimento - principalmente nas camadas mais jovens - que as leve a considerar natural fixarem-se nas suas terras de origem. E para isso é preciso muito investimento nesses equipamentos básicos e levar naturalmente à concretização, à adopção desses estímulos, quer para o investimento quer para a mobilidade das pessoas para essas zonas do território mais desfavorecidas.

Estou na fase de elaborar o PIDDAC. Há o PIDDAC central e o PIDDAC regionalizado. Tem havido uma permanente confusão de planos em que há investimentos que devem ser do PIDDAC regionalizado, tanto no plano de investimentos a nível central e vice-versa. Temos que pôr ordem também aí. Mais haveria a dizer, mas por aqui me fico no que respeita à interioridade. Este é um tema em que gostava de ficar conhecido como um governante diferente. Ficarei contente se conseguir ganhar um pouco essa batalha de tornar o país mais equilibrado.

Eu fui Presidente da Câmara de Lisboa e depois de ser Presidente da Câmara de Lisboa continuei a fazer este discurso e a ter este pensamento, e portanto, não passei a defender os investimentos para Lisboa, em detrimento do resto do país. Dou-lhe um exemplo: a ponte Vasco da Gama foi construída com dinheiros do fundo de coesão, outras grandes obras nas zonas mais desenvolvidas do país foram construídas com verbas do fundo de coesão. Cerca de dois terços do anterior quadro comunitário foram para investimentos nessas regiões mais desenvolvidas do país, nomeadamente Lisboa. Há aqui critérios de distribuição de recursos a corrigir. Agora, também vou enviar o PIDDAC, o plano de investimentos do Estado, aos conselhos das regiões antes da sua aprovação final.

Vou agora à pergunta final, para acabarmos em beleza.

Com quem é que eu gostaria de ir lanchar a Belém? Se com o Prof. Cavaco Silva, com o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, ou com o Dr. Francisco Pinto Balsemão.

Eu acho que tem que se lhes perguntar é qual deles é que quer passar a tomar as refeições em Belém, não é? Essa é a questão. Eu tenho gosto de lanchar com qualquer dos três, apesar de saber que pelo menos um deles, ou se calhar nenhum deles, lancha muito. O lanche para mim é uma refeição essencial. Portanto a sua pergunta foi bem posta, e a hora de audiência com o Presidente da República normalmente é às seis da tarde, e eu lancho muito, gosto de lanchar. Portanto a pergunta que pôs tem que se lhe diga.

Mas vamos decidir essa matéria, como eu disse sempre, mesmo quando estava noutra posição, com elevação, com calma. As eleições presidenciais, já o sabemos, são eleições onde a decisão de cada um conta muito. Falou em três pessoas, qualquer um deles pode ser candidato à Presidência da República.

Agora depende muito da vontade de cada um deles. Cada um com as suas características. Como Presidente do partido sentir-me-ei honrado de o mobilizar para apoiar qualquer uma dessas pessoas.

Se eu estivesse agora a dizer que deve ser esta ou aquela pessoa, era um gesto gratuito, porque penso de facto que depende muito da vontade de cada um. Agora, quero ganhar essas eleições. Disse isso quando admitia disputá-las e digo agora o mesmo quando sei que não as vou disputar. E deixem-me terminar a dizer isto, (e quero dizê-lo de modo expresso ao Congresso do partido) eu não acredito que alguém possa mudar um país a sério, um país como Portugal, estando menos de dez anos no poder, na chefia do governo. Cavaco Silva mudou-o, porque esteve dez anos no poder.

É muito difícil anunciar as várias medidas impopulares que estou a anunciar. Mas quero que as pessoas não tenham dúvida nenhuma do rumo que vai ser seguido, esse rumo da verdade e da autenticidade. E sei o muito que há para fazer neste Portugal, com essas desigualdades todas. Sei que não posso fazer tudo em dois anos. Mais uma legislatura, vamos ganhá-la, vamos conseguir. Mas eu estou convencido que dez anos é o período ideal para se poder ter condições para mudar um pouco ou com significado um país, e obviamente preocupa-me quem vai ser o próximo Presidente da República. Obviamente que me preocupa, é importante para o nosso sistema de governo. Basta ver isto, se o actual Presidente tem tomado outra decisão, agora o nosso País estaria num caminho diferente.

Neste momento estaríamos em campanha eleitoral. E vejam o que era estar em campanha eleitoral no momento em que estamos a discutir a revisão do Pacto de Estabilidade e Crescimento, as novas perspectivas financeiras na UE, em que estamos a agarrar a recuperação económica, em que o país está a dar o salto a ver se consegue acompanhar o ritmo de crescimento europeu que até está moderado, (mas temos que crescer mais do que no resto da União Europeia). E com as incertezas todas que acontecem no Mundo. É sempre importante a função de um Chefe de Estado, e num sistema de governo como o nosso é muito importante.

Agora, eu sempre disse antes e mantenho, vamos resolver isso sem dramatismo nenhum, vamos resolver isso bem. Qualquer dos três nomes que disse acho que têm ementas diferentes para o lanche, não lancham todos da mesma maneira. (RISOS)

Estou convencido que cada um deles tem os seus gostos, a sua maneira de ser. Eu também tenho a minha. Agora, acho que somos capazes, seremos capazes, sempre, de assegurar a solidariedade institucional com qualquer um deles, não é? Com qualquer um deles. Na devida altura, lá para o primeiro semestre do ano que vem, eu estou convencido, saberemos quem vai ser o candidato. Vai ser um ciclo difícil. E eu vou terminar pedindo-vos que pensem neste ciclo. Vamos ter referendo europeu a 5 de Junho, em princípio, eleições autárquicas a 9 de Outubro, em princípio, eleições presidenciais no princípio de Janeiro, e depois eleições legislativas em Outubro seguinte.

E hoje em dia, a agenda de um Primeiro-Ministro, a minha agenda até ao final do ano, metade do tempo estarei fora do país, nos compromissos a que tenho mesmo de ir. Dou-vos alguns exemplos: a Cimeira Ibero-Americana, a Cimeira entre a Europa e a Ásia, os Conselhos Europeus, a assinatura do Tratado Constitucional em Roma dia 29 de Outubro, uma visita a Nova Iorque para a semana, onde irei falar na Assembleia Geral da ONU, a Cimeira Luso-Espanhola a 01 de Outubro em Santiago de Compostela, a Cimeira Luso-Francesa no princípio de Dezembro, para a semana vem cá o Primeiro-Ministro Argelino, vem a Presidente da Letónia, o Chanceler Schroeder a 19 de Outubro. Só entre os compromissos externos, estou-vos a dar alguns exemplos.

E é preciso muito tempo para governar internamente o país. Temos esses desafios eleitorais todos pela frente, e eu quero-vos dizer que saio daqui confortado, saio honrado, volto a dizer, por termos tido o Juan Luis Cebrian.

Vão dizer, “então um director de um jornal foi uma iniciativa de um partido em Portugal, que está no poder…”. É preciso estar completamente à vontade na vida para se saber que se pode ir a qualquer lado, ninguém tem dúvidas de quem ele é. Ainda por cima a um lado que ele conhece bem, que é um sítio de respeito, e a uma iniciativa destas. E eu agradeço-lhe mais uma vez este gesto e a prontidão com que aceitou este convite amigo, é uma grande honra para nós. (PALMAS)

E ele, com o seu “El País”, atento, incisivo, profundo, mordaz, irá seguir este ciclo de eleições em Portugal, irá ver, analisar, com a sua independência. E eu acho que temos que dizer lá para Espanha que Portugal também quer agarrar a pedalada da Espanha. A Espanha nos últimos anos, tomou um pouco a dianteira, e nós temos também que puxar pelo nosso amor-próprio, temos que crescer mais, temos que competir muito neste espaço ibérico, temos que entrar no mercado espanhol como eles, com competência, têm entrado no mercado português.

As empresas portuguesas têm sabido responder bem a esta procura, reconversão, novas vias de mercado, têm sabido fazê-lo. Mas para este ciclo eleitoral que aí vem.

Deixem-me só contar-vos isto. No Brasil eu vi o desfile da independência, e o Brasil deu uma grande lição, eles desfilam com os seus contingentes militares todos, com as bandeiras todas. Eu quando cheguei à base aérea de Brasília, e recebi as honras militares, entrei na sala e tinha, (não era por eu estar lá, estão lá sempre) as bandeiras todas de todo o período da história do Brasil. Mesmo do tempo do Império. Ainda lá estão as quinas portuguesas. Não há complexos nenhuns de afirmação e de identidade. E no desfile, por aquela avenida toda em Brasília, os vários contingentes militares, uns criados por D. Pedro, outros ainda por Dª Maria, outros ainda por D. João VI, e lá desfilaram as bandeiras todo aquele tempo sem complexos nenhuns. Nós às vezes em Portugal, só por uma questão de regime entre a república e outro regime, não podem aparecer outras bandeiras.

Esta descontracção, esta grandeza em ser livre, é notável. Eu quando disse que me sentia em casa no Brasil, disse-o porque uma pessoa sente-se mesmo em casa ali. Só dar uma entrevista à TV Globo e não ter tradução simultânea, estar ali a falar português…

O que fizeram os nossos antepassados, de facto, por esse mundo fora...

Há uns anos, quando visitei o Brasil, nadei um bocado até longe em Copacabana, pus-me a olhar para aquilo tudo, e pensei, “de facto estes nossos antepassados tinham uma raça”. Como também os antepassados dos cidadãos de Espanha. E por isso uma pessoa ali sente-se em casa.

Eu não quero fazer discurso de político, mas vocês sabem que eu gosto da Jota, gosto a sério. E preciso da JSD porque eu não tenho dúvidas do caminho que vamos seguir. Não fazendo de vítima, (que nunca gosto de fazer), mas vamos levar muito, como se costuma dizer! Vamos ter aí muita força contra a acção que vamos desenvolver. É a democracia, é a regra da democracia. Agora, as eleições só se ganham com a Juventude. Eu quero ir buscar a juventude que está connosco, e quero buscar a juventude que ultimamente tem acreditado mais noutros partidos políticos.

Eu quero ir buscar essa juventude para vir connosco. Não podemos ir buscar todos, nem quero ir buscar todos. Eu não ignoro que uma parte da juventude hoje em dia, gosta do Bloco de Esquerda, por exemplo. E sei porquê. Mas conheço o Francisco Louçã desde os dez anos, sei porque é que ele está com aquela cara preocupada, com que o vi na Assembleia. É que ele já percebeu que isto agora vai ser um bocadinho diferente e que aqueles eleitores mais novos que ele foi buscar, (tenho a certeza que) vou conseguir convencê-los que o caminho não é por ali. Tenho a certeza absoluta, e nós todos em conjunto vamos fazer isso.

É por isso que eu vos digo: o poder chega e parte. O poder só interessa mesmo por causa de um projecto. Senão ficamos com os cabelos mais brancos, com menos cabelo, mais velhos, menos tempo para a família, apenas para deixar tudo na mesma. É por isso que eu vos digo, eu preciso, preciso mesmo, da JSD.

Quando eu era pequenino, e estava naquela fase da vida em que dizemos “eu não preciso de ninguém”, a minha avó dizia-me sempre “não digas isso. Precisamos todos na vida sempre uns dos outros”. E eu sendo Primeiro-Ministro, Presidente deste grande partido, quero dizer-vos com toda a certeza daquilo que estou a dizer: preciso mesmo muito de vocês.

Mas não é precisar só nas campanhas. Preciso que vão às sedes, que mandem e-mails, que se façam sentir sempre, que mantenham ligação à terra, porque não há nada pior para quem está nestas funções do que perder a ligação à terra.

Costuma-se dizer que eu tenho muitos seguranças, não acreditem. Não se fala de segurança em público, mas obviamente hoje em dia não tenho a liberdade de movimentos que tinha quando não estava nestas funções. Mas quem anda comigo sabe, ou quem me conhece, que eu gosto é de fazer a mesma vida que sempre fiz, e de estar no meio das pessoas. E do que eu tenho medo, é de perder essa ligação.

E por isso, termino, pedindo-vos ajuda para ganhar este combate.

Uma palavra final ao Deputado Carlos Coelho, Reitor da Universidade, vocês bateram bem palmas ao vosso reitor, por acaso não o via como reitor, mas é uma ideia. Toda a gente conhece as qualidades do Deputado Carlos Coelho, Reitor da Universidade. O nosso Secretário-Geral não está cá hoje, está doente, mando-lhe daqui um abraço, apanhou uma infecção com o ar condicionado do avião quando vínhamos do Brasil. Mas quando me perguntou “quer manter a rentrée?” eu disse “não” “e a Universidade de Verão?” e eu perguntei “mas quem é que organiza este ano a Universidade de Verão?” ele disse “o Deputado Carlos Coelho e a JSD”.

Eu disse “então força nisso. De certeza que vai ser bom”. Eu quero agradecer ao Deputado Carlos Coelho o espírito permanente de serviço ao partido desde a Jota, dos tempos dele de Jota, e continua agora, principalmente no Parlamento Europeu. Há muitos deputados europeus que vão para lá e nós só os vemos quando regressam, o Deputado Carlos Coelho tem esta capacidade de manter a ligação à terra, o espírito de servir, o espírito de serviço. Está sempre connosco apesar de ser estrela naquela constelação dourada do PE.

Eu acho que os Presidentes dos partidos ou das associações têm que saber também dizer obrigado a quem o merece. Não o vou condecorar como condecorei a Fernanda Montenegro, que ele não tem idade, mas vou-lhe dizer muito obrigado, e para continuar cada vez com mais força.

Muito obrigado.

(PALMAS E VIVAS À JSD)

Agora, se não me levam a mal, vou até Lisboa, que amanhã tenho de ir aos Açores, e de manhã ainda tenho que reunir com o Senhor Ministro das Finanças.

Se não me levem a mal por eu sair. O meu e nosso convidado de honra, resolveu fazer a opção de dormir nestas belas terras alentejanas. Agradeço ao meu ainda colega, Presidente da Câmara de Castelo de Vide, a todos aqueles que nos receberam, ele fez esta boa opção, fica cá, dorme cá, eu não sou invejoso, mas dormir com estes ares alentejanos faz muito bem.

Muito obrigado. (PALMAS).