A começar mais um dia da Universidade de Verão, com um modelo um pouco diferente dos anteriores dias. Temos dois convidados para este painel da manhã que vocês conhecem bem, mas não é por isso que dispensam uma apresentação. São dois Deputados experientes.
Começo por apresentar aquele que está à minha esquerda – o EuroDeputado Carlos Coelho. Foi eleito Deputado pela primeira vez em 1980 e reeleito várias vezes. É actualmente Deputado ao Parlamento Europeu. E é Director da Universidade de Verão. Toda a sua carreira política foi dedicada às áreas da educação, ciência, cultura e juventude. Presentemente, no PE, tem estado em vários trabalhos, nomeadamente na Comissão Echellon onde se notabilizou.
Foi Presidente da JSD, exerceu cargos autárquicos e é autor de várias publicações nas áreas da juventude, da educação e da política europeia. O Carlos Coelho é para todos vós encarado como um amigo e isso é fundamental para esta apresentação. Além de tudo, já viram no “Quem é quem” que gosta de um bom bacalhau à narcisa e recomenda um livro para todos lerem que se intitula “A ética para um jovem” de Fernando Savater.
O outro convidado é o Gonçalo Capitão. É Deputado, menos experiente que o Carlos Coelho, mas já vai na segunda legislatura em São Bento. A primeira vez que se tornou Deputado foi por um dia em 1995 e foi o dia mais importante da sua vida. Foi Presidente da JSD de Coimbra, Vice-presidente da JSD Nacional e a sua acção na JSD foi muito activa.
Participou em alguns livros, nomeadamente “Sistemas Políticos” com Pedro Santana Lopes e ultimamente lançou um livro intitulado “Telecomandos, ratos e votos”, cuja leitura recomendo a todos.
Convosco hoje dois amigos e conferencistas: o EuroDeputado Carlos Coelho e o Deputado Gonçalo Capitão. (PALMAS)
Deputado Carlos Coelho
Bom dia. Fazer política obriga a algum estoicismo, a alguma abnegação, a alguma capacidade de resistência. Eu e o Gonçalo, vamos verificar a vossa capacidade de resistência – se chegarmos ao fim e vocês não estiverem a dormir – significa que têm um dos requisitos essenciais para fazer política.
Falar claro é o tema da nossa conversa. “Falar claro” permite uma brincadeira. Falar, “ Claro”, porque em política é essencial falar, é um meio de comunicação. Não existe capacidade de fazer política sem este meio, é uma das liberdades e um dos fundamentos essenciais para gerirmos o poder e para nos relacionarmos em sociedade. E “falar c laro” porque devemos fazê-lo claramente.
Esta brincadeira semântica entre o “falar”, “claro” e “falar claro” vai dividir-se em dois blocos distintos: o primeiro em nove notas prévias, o segundo em quinze conselhos para quem vai falar em público. Isto resulta de uma simbiose de dois documentos diferentes, um da responsabilidade do Gonçalo Capitão, o outro da minha responsabilidade, que vos vamos apresentar de seguida.
Vamos começar a primeira parte com as nove notas prévias que são muito simples, mas verdadeiramente importantes.
Primeira Nota – Fazer política é comunicar. Nós podemos ser os melhores, mas se ninguém souber não tem consequência. Qual é a razão disto? É muito simples. Em Democracia é o povo que decide.
É essencial comunicarmos para perceber o que está a acontecer. Comunicarmos para detectar quais são as ansiedades, os anseios e as expectativas das pessoas.
Comunicarmos para explicar o que estamos a fazer ou porque não o conseguimos fazer, embora o tenhamos prometido anteriormente. Primeira nota prévia simples, fazer política é comunicar.
Segunda nota prévia – na comunicação há um emissor e um receptor. Eu pedia ao Jorge e ao Gonçalo que nos mostrassem as imagens. (UM IDENTIFICADO COM UM DÍSTICO ONDE SE LÊ “EMISSOR” E OUTRO IDENTIFICADO COM UM DÍSTICO ONDE SE LÊ “RECEPTOR” E AMBOS SEGURAM UMA PLACA ONDE SE LÊ “MENSAGEM”)
Vêem? O que liga o emissor ao receptor é exactamente a mensagem. Esta é uma ideia simples, mas é uma ideia que transmite tudo em relação ao discurso. A mensagem é o que une o emissor ao receptor.
Imaginem o seguinte: Eu queria proporcionar-vos uma intervenção melhor que qualquer uma que ouviram ou vão ouvir na Universidade de Verão e trazia-vos o melhor orador do Mundo. A pessoa mais arrebatadora, aquele que fala trinta segundos e põe-vos a chorar, mas ele é chinês. Ninguém compreende a sua intervenção porque não está estabelecida a relação entre o emissor e o receptor. A língua é um elemento essencial para a transmissão da mensagem.
Para lá deste exemplo extremo, existem outros, Imaginem que nós estamos aqui a falar português com um estrangeiro e usamos expressões muito nossas como: “está a chover a cântaros” … o estrangeiro pergunta porque é que estão a cair do céu objectos de barro.
Deputado Gonçalo Capitão
Carlos, dás-me licença? A propósito disto, há um exemplo histórico na Polónia Aquando da visita do Presidente Kennedy, escolheram mal o tradutor. O Presidente Kennedy durante a sua intervenção deseja aos polacos “Felicidades” ou algo idêntico e o tradutor transmite erradamente como “desejo sexual”. O problema aqui é o tradutor que devia pôr o Presidente Polaco e o Presidente Kennedy a falar a mesma língua e ao traduzir a mensagem americana transmite-a erradamente.
Deputado Carlos Coelho
Bem esta questão da língua é essencial em questões mais subtis. Um discurso para uma audiência jovem não é o mesmo que para uma audiência sénior. O tipo de referências para pessoas que vivem numa grande cidade não é o mesmo para aqueles que vivem numa aldeia. Muitas referências e até expressões usadas no Norte do nosso País não têm o mesmo significado que no Sul. A adequação do discurso à audiência é isto – a mensagem que une o emissor ao receptor.
Terceira nota – Nós precisamos de comunicar com pessoas diferentes. Podemos comunicar com colegas, com militantes, com simpatizantes ou com cidadãos.
O objectivo da comunicação é obrigar a pensar. Como é que vamos comunicar? Não é a mesma coisa falar para militantes ou falar na televisão para todos os cidadãos. Em função da nossa mensagem, vamos pensar para quem é que vamos falar. Do ponto de vista técnico do Governo, podemos falar para médicos ou para agricultores. O conteúdo da mensagem depende em função do target. Se o Primeiro-Ministro for ao Alentejo é natural que faça um discurso diferente daquele que fará quando visitar o Hospital de São José.
Há diversos meios de comunicar: o jornal da Secção, o press-release, a Internet, os jornais, a rádio, a televisão. Em função do meio, do instrumento que passa a mensagem, assim é alterada a estrutura da mensagem.
Não é a mesma coisa falar na televisão ou escrever num jornal. Não é a mesma coisa fazer uma peça para a Net ou dar uma entrevista para a rádio. A lógica do discurso tem a ver com o meio utilizado.
Atenção aos efeitos indesejados. Se na vossa secção abrirem uma página na Net para comunicarem com os militantes, não podem esquecer-se que qualquer cidadão que consulte a Net tem acesso à vossa página. Por isso, um objectivo que foi desejado para um target definido por ter utilização para outro target. Um exemplo claro é o jornal da Secção distribuído antigamente em papel, se uma notícia “delicada” era publicada no jornal da Secção, podem crer que alguém deixaria o jornal “esquecido” de modo a que a notícia chegasse aos órgãos de comunicação social.
Se o meio de comunicação interna passa a ser “chacota” pela comunicação social que acha que os responsáveis pelo jornal não têm juízo ou não sabem o que estão a fazer, existe o aproveitamento dos meios de comunicação social por outro target que não aquele para o qual estava definida a acção.
Dou a palavra ao Gonçalo Capitão para que vos explique como se constrói uma mensagem.
Deputado Gonçalo Capitão
Sobre a construção da mensagem temos de ponderar sobre o que se pretende dizer e qual o meio a utilizar. Hoje em dia, comunicar obriga a ponderar no abstracto. Convidava-vos de forma telegráfica a pensar sobre o assunto.
Hoje, falar de política para população jovem é, por um lado, falar para gente adormecida pelo ritmo da televisão e por outro lado interessada naquilo que lhe diz respeito pela Internet. Mas a mensagem não é como antigamente, em que as pessoas ficavam à espera que lhes comunicassem um facto da forma mais sucinta possível. Deixem-me dar-vos alguns dados: Um estudo sobre os alunos americanos revelou o seguinte – Foram escolhidos 500 alunos e os testes elaborados dão este resultado: 49% desses alunos não sabiam quem era Marx; 33% não sabiam quem eram os nazis; 54% desses alunos não sabiam quem era Van Gogh e 40% dos alunos norte americanos não sabiam dizer a data de nascimento de Jesus Cristo. Destes alunos 3% desconhecia quem era Bob Russell (uma espécie de Eusébio do futebol americano).
Estamos a falar de gente soterrada de informação. Nos Estados Unidos saem 75.000 livros por ano contra 50.000 na Grã-Bretanha. Por dia, nos Estados Unidos da América há 6.000 a 7.000 novos artigos científicos. A Hollywood chegam por dia 25.000 novos guiões, que oscilam entre professores de aeróbica assassinados e uma partida de golfe com Jesus Cristo. Há 1.600 anúncios por dia a passar na televisão norte americana.
Está visto que se Shakeaspeare voltasse à vida (e era um tipo que já tinha a escolaridade mínima obrigatória, segundo se consta) só conheceria 250.000 palavras das 450.000 usadas. Em trinta anos produzimos mais informação do que em 5.000 anos anteriores
Se vocês fossem capazes de ler 5.000 palavras por minuto durante oito horas por dia, levariam um mês e meio a absorver toda a informação produzida num dia, posto que, quando tivessem terminado, teriam cinco anos e meio de atraso na leitura. Mais, vão falar para gente que está habituada a ver fazer política de circo. Quem não viu aquela mensagem do Presidente Bush carregando um peru para as tropas americanas? Isto é obviamente uma palhaçada. Se calhar ninguém está habilitado a falar com o Presidente Bush a não ser o perú de plástico, o que não é o caso. (RISOS)
Nas eleições na Califórnia, (e não podemos achar que os americanos são particularmente estúpidos), elegeram um actor de cinema para governador do Estado da Califórnia. Nesta eleição concorreu também uma actriz de filmes pornográficos que usava o site da campanha como ligação ao seu site onde vendia os seus filmes.
A política também é feita de episódios destes: uma senhora ucraniana foi a votos numa circunscrição uninominal e a primeira coisa que fez para captar a atenção foi querer mudar de nome para Osama Bin Laden. As autoridades ucranianas apenas conseguiram impedir esta atitude bizarra, alegando já existir um “Bin Laden” que era procurado internacionalmente por crimes de terrorismo.
Esta mesma candidata a deputada despiu-se à frente das câmaras dizendo que a sua atitude era um reflexo da vida real, 28 anos na altura, doméstica, mãe de dois filhos, arruinou a candidatura do marido à autarquia local, distribuindo panfletos onde o acusava de sofrer de atracção imparável por mulheres em idade madura, ser homossexual e polígamo (acusações, aliás, contraditórias).
É para esta gente que vocês vão comunicar e é preciso saber o que se vai dizer, para quem vão falar e evitar hesitações.
Se formos para uma escola secundária é muito complicado fazer um discurso falando de filósofos e políticos. Falando para um público sénior é preciso ter cuidado com a agressividade porque geralmente as pessoas de maior idade não gostam de ver um jovem a ser demasiado desrespeitoso. Um dos maiores erros que tive de explicar na minha vida foi, quando aos 22 anos, num jantar cheio de pessoas mais velhas, no Concelho de Coimbra, ao pretender ilustrar que a política é um serviço, mencionei que o Professor Cavaco Silva era meu empregado.
É necessário ver com quem queremos comunicar, termos atenção à forma como nos exprimimos e usamos os meios de comunicação social nacional só para assuntos verdadeiramente relevantes e não para questões do foro autárquico ou local. Vão comunicar com uma população com baixo grau de literacia, vão usar canais de cabo em sítios onde as pessoas não têm televisão por cabo.
Dou-vos um exemplo, foram distribuídos preservativos à porta de uma igreja em Coimbra, uma das senhoras que vinha a sair da missa abriu um invólucro e meteu-o à boca, ou seja houve ali um momento complicado, mas o facto é que foi uma tremenda confusão.
Têm de pensar para que querem um texto. Reparem, se convocarem uma conferência de imprensa têm de ter determinados cuidados. Têm de dizer a hora, o local e sobretudo a comunicação social hoje em dia, acha-se um poder, salvo raras excepções. Quando há uns anos atrás, comecei na política, eu enviava uma folha a comunicar que iria falar em determinado dia e num certo local. Actualmente já não é assim. Convém telefonar aos jornalistas a perguntar se querem aparecer, darem-se bem com eles de modo que pensem que vocês têm algo de importante a dizer.
Por outro lado, devem distinguir um comunicado ou declaração de uma nota de imprensa. Um comunicado geralmente comunica a vossa posição sobre determinado assunto enquanto uma nota de imprensa é uma descrição noticiosa sobre determinado evento.
Exemplo: “Na Universidade de Verão o Carlos Coelho e o Gonçalo Capitão chatearam-nos até à medula”. Isto poderá ser a nota de imprensa. Se for um comunicado será “Os alunos da Universidade de Verão acham que aqueles palermas nunca deviam ter usado da palavra”.
Deputado Carlos Coelho
Bem temos um exemplo para vos distribuir de cada um destes textos que é uma distinção que o Gonçalo fez e que é muito importante. O primeiro é uma convocatória de uma conferência de imprensa – reparem que dados essenciais aí se encontram. No canto superior esquerdo temos a data, um título, que pode ser o protagonista ou dizer qualquer coisa, neste caso está escrito “Gonçalo Capitão” (é a pessoa que convoca a conferência de imprensa).
No primeiro parágrafo, temos o objecto – “Gonçalo Capitão convoca uma conferência de imprensa para anunciar qual o candidato que apoia para as eleições presidenciais”, não diz o que vai dizer, apenas diz o assunto criando uma expectativa nos jornalistas. No segundo parágrafo, tem os dados essenciais da localização da referida conferência – “6ª feira, dia 10 de Setembro, às 10 horas, na sala de reuniões do Hotel Sol e Serra”.
Em baixo à direita encontram-se os contactos: telefone e fax – para que os jornalistas possam contactar quem promove a conferência. Esta é a forma simples de uma convocatória de uma conferência de imprensa.
De seguida, o Gonçalo falou-vos num comunicado ou declaração. “O Deputado Gonçalo Capitão dá uma conferência sobre quem vai apoiar nas próximas eleições presidenciais” e reparem: ele faz uma comunicação em crescendo. Ele começa por dizer o que entende ser o Presidente da República, explica qual o perfil do candidato para assumir as funções de primeira figura de Estado, para dar uma certa ênfase descreve comentários de amigos sobre as qualidades do candidato. E o mais importante, em quarto lugar desta comunicação, reconhece que não tem os requisitos que a Constituição pede: mais de 30 anos de idade e vai desencadear na Assembleia da República o processo de alteração da Lei – alteração da idade dos candidatos à Presidência da República – para que possa apresentar a sua candidatura.
Como vêem a comunicação vai em crescendo. O último exemplo que o Gonçalo falou foi na nota de imprensa. A nota para a comunicação social é feita exactamente ao contrário da comunicação. Tem um título chamativo “Gonçalo Capitão candidato a Belém”, a explicação no primeiro parágrafo – “causando a maior surpresa o Deputado Gonçalo Capitão candidata-se às eleições presidenciais e reclama alteração da Constituição” – e como vêem está tudo dito no primeiro parágrafo e os seguintes vão perdendo força. Esta é a nota de imprensa construída sobre este evento.
Deputado Gonçalo Capitão
Tens muita piada. Como calculam isto é preciso ponderar tudo... eu nunca faria uma coisa destas se fosse baixo e careca. (RISOS)
Sexta nota prévia – há que conseguir um bom texto. Desde logo é preciso perceber que a estrutura de uma notícia é informativa e o texto de um discurso é argumentativo. Daqui a pouco, logo à tarde na simulação, vocês nos vossos discursos vão explicar porque tomam determinada medida, e posteriormente, nas notícias do JUV, o Paulo Colaço dirá qual a pessoa que falou melhor ou pior e será isso que aí estará em causa.
Alguns conselhos práticos necessários. Uma ideia por parágrafo – não pensem que, por fazerem uma página compacta, o texto se torna mais legível, é falso. As pessoas e os jornalistas hoje em dia “estão preguiçosos”, não gostam de ler muito e daí que o texto deve ser curto.
A seguir a terem título, é necessário sintetizar a ideia logo após o título. Têm de prover informação às pessoas logo a seguir ao título. Ainda há pouco tempo um amigo meu e do Jorge Nuno referiu que gostava de ler os meus artigos porque os títulos eram apelativos e chamavam a atenção das pessoas.
No último Congresso da JSD, li a moção do Jorge Nuno, linha a linha, mas desafio-vos a dizerem-me três títulos de moções ou as ideias que estavam por detrás das mesmas. Aposto convosco o ordenado que o Carlos me paga na Universidade de Verão em como não se lembram de nenhuma. (RISOS)
Deixem-me contar-vos uma coisa, de que me orgulho particularmente, das primeiras entrevistas que consegui que passassem em Coimbra na comunicação social o título era “A JS faz lembrar um cão com pulgas”. Isto porque no tempo do Professor Cavaco, era Presidente da JSD e discursava sobre propinas e a JS “coçava-se muito” e ninguém percebia porquê, fazia lembrar um cão com pulgas. Isto era uma alarvidade, na altura era um tipo mais novo com este aspecto estrambólico que não tinha responsabilidades. O facto era que toda gente leu aquilo e eu tive que começar a baixar o tom e começar a ser mais educadinho.
Numa entrevista que dei a seguir ataquei o mesmo presidente da JS que me tinha atacado. E eu disse que fazia uma política de vomitado, punha os dedos à boca e vomitava a sua política. Não façam isso em vossa casa. (RISOS)
Ganhar o título (mas não desta forma larvar) é importante. Dois exemplos para terminar: No Independente surgiu uma notícia sobre uma moção minha que era “Ajudinha para pagar o Poborski”, que era um jogador checo do Benfica. Na altura o clube não tinha dinheiro para lhe pagar e um grupo de cidadãos angariaram dinheiro para lhe pagar. O que eu queria dizer na moção não era que o importante era pagar ao jogador de futebol, mas que a JSD vivia segundo os subsídios intelectuais do Partido e devia começar a pensar por si.
Agora pensem, se eu tivesse dito “a JSD devia viver com autonomia relativamente ao partido”, quantos é que lembrariam da moção...? quantos a teriam lido...? nem mesmo um jornal polaco.
Um último exemplo, que mostra como se podem causar equívocos. As coisas podem ser tão bem preparadas para a comunicação social que pode até ultrapassar-vos. Em 2000 levei ao Congresso da JSD uma moção que falava da “tiazinha”, moção essa que falava das relações entre Portugal e o Brasil, que consistia na importação de telenovelas, jogadores de futebol, etc.. A coisa foi de tal maneira que um jornal coloca no seu título “Capitão leva tiazinha ao Congresso da JSD”. Posteriormente numa sessão na sede do PSD, alguns dos presentes que assistiram vieram dar-me os parabéns por conhecer a tiazinha. Não vos recomendo este estilo, honestamente não recomendo, mas ganhar o título é muito importante para vingarem na política.
Sétima nota – Primeiro é necessário convocar uma conferência de imprensa. Temos de saber se o assunto é relevante ou os jornalistas não aparecem.
É desmotivador para quem está nessa equipa política e dá uma frustração brutal. Os jornalistas têm o hábito de telefonar para saber o que se vai passar, não antecipem o tema da conferência de imprensa ao telefone porque provoca que os jornalistas não aparecem.
Escolher o dia e a hora, se forem jornais regionais têm de se adaptar ao funcionamento dos mesmos, porque geralmente fecham mais cedo.
O tamanho do local é muito importante, Escolher uma sala grande e na mesma só vão estar três jornalistas dá um aspecto desolador. Vale mais ser ao contrário, uma sala pequena para imensa gente.
Quanto ao décor... deixo este assunto para a pessoa mais sensível deste painel, evidentemente. Quanto à questão da luz. Hoje já não se verifica esse problema, mas antigamente os membros de comunicação social locais trabalhavam de forma mais amadora. Se estivéssemos em contra luz o fotógrafo chegava lá e tirava as fotografias. Actualmente, existem meios sofisticados e põem a pessoa na pose mais adequada.
Convocatória. O Carlos Coelho diz que a convocatória deve ser feita cinco dias antes, eu não estou tão seguro deste prazo. Mas é necessário confirmar sempre a presença das pessoas que irão estar presentes, se não confirmarem por muito que tenham convocado, provavelmente não vão.
Deputado Carlos Coelho
Décor – é uma das questões essenciais. Criar ambiente de modo a permitir que os jornalistas criem boas fotografias.
Hoje em dia existem processos fáceis. Como exemplo esta estrutura, aqui presente, em forma de guarda-chuva em tamanho maior é executada em alumínio, muito leve, e exactamente igual à que se encontra atrás de mim. Monta-se em quatro minutos, abre-se, põe-se umas barras e aplica-se esta superfície. É uma estrutura adaptável. O ecrã atrás de mim serviu para falarmos na Universidade de Verão mas a seguir o Gonçalo Capitão vai fazer a sua conferência de imprensa, muda-se o décor. (O ORADOR APLICA UMA PLACA AUTO-COLANTE NA ESTRUTURA MUDANDO A IMAGEM DE FUNDO)
Para a fotografia que vai aparecer no jornal, para a imagem que a televisão vai transmitir, esta estrutura modesta, que corresponde a isto estendido, faz toda a diferença. É uma estrutura profissional, barata, adaptável que qualquer estrutura do PSD devia ter. Nós na distrital de Santarém possuímos uma. É uma forma de melhorar a nossa imagem na comunicação social.
Deputado Gonçalo Capitão
Numa conferência de imprensa temos de pensar numa nota prévia. É necessário pensar bem no que se vai dizer e na sua utilidade. Por outro lado, é necessário pensar se queremos ser abordados com questões desagradáveis ou que não têm interesse nenhum. Existem políticos que se aborrecem com as perguntas colocadas por alguns jornalistas. Dou-vos o exemplo do Ministro das Finanças Miguel Cadilhe, que teve problemas por alegados favorecimentos a particulares e, quando, abordado pelos jornalistas responde agressivamente que não prestava quaisquer esclarecimentos sobre o assunto. Prestem atenção se querem prestar depoimentos aos membros da comunicação social.
Quem responde – Se for uma equipa convém não ser o mesmo a responder, mas outros membros, dando a imagem que é uma equipa bem preparada.
Falar para o público – Não leiam apenas a nota de imprensa. Isso já os jornalistas sabem, nem falem só para a comunicação social. Do ponto de vista da política, existem jornalistas bem informados nesse meio, por isso é necessário passar a mensagem para o público.
É necessário justificar as medidas mais polémicas e impopulares. Se não existem aumentos para a função pública e anunciarem que vão aumentar o dinheiro para finalizar a construção de uma estrada. É necessário explicar ao público porque não se aumentam os funcionários e porque se aumenta a verba para a construção de uma estrada.
Se colocarem um barco de guerra a impedir que uma traineira iraquiana atraque é necessário informar o público desta situação porque podem não ser bem compreendidos.
Responder claro e directo às questões colocadas. Nunca tenham respostas evasivas porque vê-se que estão a fugir e o jornalista escreve que na Conferência de Imprensa fugiram à informação solicitada.
Cuidados que se devem ter: Apesar de tudo, não vejam a comunicação social com ironia. Quantas pessoas se queixam que dão depoimentos à comunicação social e eles aparecem distorcidos. Não vale a pensa serem agressivos porque podem estar a ser injustos com o órgão de comunicação social na próxima vez e porque o jornalista com quem foram agressivos vai escrever a notícia novamente, não ganham nada com isso.
O Dr. Paulo Portas é exímio em preparar as perguntas de algibeira. Se forem falar sobre livros, saibam primeiro qual o seu custo. Quando forem à televisão têm de saber quanto custa um bilhete de metro, de cinema e o custo do pão. Ninguém acredita que o Dr. Portas ande de metro em vez de Jaguar, mas em todo o caso ele sabe os valores, porque ficaria muito mal visto perante o público se não o soubesse.
Numa entrevista dada a um jornalista, convém pensar bem no que se vai responder para que não saia asneira.
Hoje em dia não é importante ter fotografias sobre a conferência, mas na comunicação social local é útil ter algumas fotografias vossas.
Na rádio existe um truque fundamental quando se vai dar uma entrevista que consiste em ficar de costas para a régie. Quando se está a ser entrevistado em directo, o sistema nervoso fica um pouco alterado, se o profissional que se encontra na régie estiver a ler o jornal, a rir, etc., distrai a atenção e pode ser fatal.
Numa entrevista na rádio falar com voz firme. Usar notas, mas não ler e ter cuidado com as pausas. 30 segundos na rádio são uma eternidade, por isso não fazer pausas durante o discurso. Na televisão, as respostas têm de ser mais curtas, porque o tempo é pouco e o jornalista pode cortar as vossas respostas se forem longas.
O vestuário é importante. O exemplo do Carlos Coelho de trajar camisa azul com gravata vermelha é bom. Nas eleições dos Estados Unidos entre John Kennedy e Richard Nixon, num debate na televisão o candidato Kennedy aparece com um ar jovial e bem vestido e o candidato Nixon aparece com a barba mal feita, um fato de riscas que não lhe ficava bem e distorcia a sua imagem. Foi desastroso para Nixon esta imagem que apareceu na televisão e os resultados finais deram vitória a Kennedy.
Na televisão tenho um problema que consiste em não suportar temperaturas altas, se me esqueço de levar um lenço fico todo suado, passo a imagem de estar a transpirar bastante e ninguém ouve aquilo que eu disser.
Numa célebre entrevista na televisão, o Prof. Cavaco ficou com os cantos da boca cheios de saliva seca. Eu que gostava muito do Professor Cavaco estava arrepiado com a imagem. Por fim, o Carlos Coelho falar-vos-á do som.
Deputado Carlos Coelho
Há quatro meses atrás o Prof. Cavaco Silva foi ao Solar do Vinho do Porto lançar um livro do Dr. Arlindo Cunha sobre a “Reforma da PAC”. A sala está cheia e o Professor Cavaco Silva aproximou-se do microfone e ouviu-se um ruído (OUVE-SE UM SILVO DE FEED-BACK). O Professor recuou e voltou a segurar no microfone e ouviu-se novamente o barulho (NOVAMENTE OUTRO SILVO). Tentou falar quatro vezes e não conseguiu. Recusou o aparelho e falou pela sua voz. Mais de metade das pessoas do Solar do Vinho do Porto não ouviram o Professor.
O som é fundamental. Numa conferência de Imprensa, num comício ou outra situação se o som for mau a acção está estragada. Não desvalorizem a questão do som. Uma das coisas boas na Universidade de Verão é o sistema de som e isso é muito importante.
Estas eram as notas prévias que queríamos transmitir-vos. Vamos agora tentar e rapidamente dar-vos quinze conselhos para falar bem.
Primeiro conselho – Não ter medo do medo. Vamos ser claros. Devem recear o medo e reagir ao medo, mas vê-lo como natural. A história da actriz Sarah Bernard, diva americana do século passado, que antes de entrar em palco cruzou-se com uma corista e perguntou se estava nervosa. A corista disse-lhe: Sarah, eu nunca estou nervosa no palco. E Sarah Bernard respondeu-lhe “há-de vir a estar, quando tiver algum talento”. A verdade é esta, se vos disserem que nunca têm medo existe alguma prosápia nesta afirmação.
O que o Gonçalo há pouco disse sobre uma certa adrenalina, é bom e pode funcionar como um certo antídoto contra o excesso de confiança. A vaidade é perigosa. Alguma pressão é boa, é muito saudável.
Segundo conselho – Não atrair os abutres, ser firme. Aparentar mais firmeza do que aquela que se sente. Como as moscas são atraídas pelo sangue, numa Assembleia a maior parte dos adversários são atraídos pela fraqueza. É fácil atacar quem tem dificuldade em defender-se.
Uma coisa essencial é o olhar, quando uma pessoa não olha os outros de frente, esconde os olhos no papel, dá uma imagem de fraqueza. Se houver algum problema em fixar alguém, utilizemos o conselho do Gonçalo Capitão que consiste em fixar um ponto acima da cabeça da última pessoa, ou seja não estamos a olhar para ninguém e aparentamos mais firmeza do que aquela que sentimos.
Terceiro conselho – Não começar a falar sem definir o objectivo da intervenção. E digo o objectivo, mas também o intuito. Eu posso fazer uma intervenção para transmitir uma ideia, ser racional ou posso fazê-la para transportar emoção, depende do objectivo que tiver para a reunião onde for intervir.
Posso fazer um pedido de esclarecimento, para esclarecer ou para aprofundar um assunto, para enervar o adversário – o conteúdo da pergunta é diferente. A figura que eu acho mais habituada numa intervenção é o pedido de esclarecimento onde somos obrigados a responder, onde somos confrontados com um pedido e ao qual teremos de responder. Mesmo na resposta ao esclarecimento há flexibilidade. Eu pedi ao Gonçalo para ajudar neste exemplo.
Deputado Gonçalo Capitão
Pedido de esclarecimento: Carlos é verdade que o Dr. Santana Lopes era a pessoa mais bem colocada para presidir aos destinos do País? (RISOS)
Eu leio-vos a pergunta que o Carlos tinha-me dado para fazer. “Carlos estás mesmo convencido que é importante para Portugal que Durão Barroso seja Presidente da Comissão Europeia?
Deputado Carlos Coelho
A pergunta que o Gonçalo me fez é se estou convencido que é importante para Portugal que o Dr. Durão Barroso seja Presidente da Comissão Europeia? É uma pergunta simples e vou ter de responder.
É bom para Portugal que ele seja Presidente da Comissão Europeia. E eu posso dar uma resposta simples.
Posso dizer que sim, que acho que é muito importante para Portugal, pois nos próximos cinco anos, aquilo que vai ser essencial para o nosso País será a luta pela coesão económica e social na Europa. E é de longe melhor termos um português sensível a esse desafio do que alguém que vá enfraquecer a coesão económica e social e ponha Portugal de fora.
Se eu responder assim ao Gonçalo, eu estou a esclarecer a ideia. Mas vamos supor que o Gonçalo repete a pergunta: “Carlos é mesmo importante que o Dr. Durão Barroso seja Presidente da Comissão Europeia?”
Eu respondo-lhe, que estou certo que é bom para Portugal, mas talvez não seja bom para Alemanha e para a Holanda. Estão em cima da mesa as negociações sobre as perspectivas financeiras da União Europeia e há quem queira irresponsavelmente reduzir o orçamento comunitário e impedir a nossa Europa comunitária de dar resposta aos desafios do futuro.
O que é que eu fiz? Peguei na pergunta, dei uma resposta mas lancei uma nova questão, apontando o dedo à Alemanha e à Holanda.
Gonçalo, queres fazer-me a pergunta outra vez?
Deputado Gonçalo Capitão
Carlos, estás mesmo convencido que o Dr. Durão Barroso é importante para Portugal como Presidente da Comissão Europeia?”
Deputado Carlos Coelho
Claro que sim, Gonçalo, (O ORADOR PROSSEGUE EM TOM DE CENSURA), o que eu acho inacreditável é que tu como Vice-presidente do Grupo Parlamentar do PSD ainda faças essa pergunta em vez de valorizar essa grande conquista quer para o nosso Partido quer para o nosso País. (PALMAS)
Ou seja, eu aproveitei a pergunta dele, esqueci a matéria e lancei um ataque. Aproveitei a resposta a uma pergunta para centrar a polémica noutra questão. Já que usei desavergonhadamente o Gonçalo para esta partida é justo dar o exemplo dele.
Aqui há pouco tempo o Gonçalo foi interpelado na Assembleia da República pelo Deputado Francisco Louçã, indo este buscar uma citação do Gonçalo para embaraçá-lo. O Gonçalo tinha duas alternativas ou desmentia que tinha dito e entrava num tipo de debate que não desejava ou pegava (como fez) no microfone e afirmava que estava surpreendido com o Deputado Francisco Louçã que em vez de citar Marx, Hegel, Trotsky, passou a citá-lo a ele. (PALMAS)
É uma forma de mudar o assunto, com graça.
Resumindo, pode ser uma intervenção, um pedido de esclarecimento, uma resposta a um esclarecimento mas tem de se definir as ideias chave, tem de se ordenar ideias e argumentos e têm de ver o que pretendem com esse instrumento. Que tipo de impacto pretendem na Assembleia.
Quarto conselho – A audiência. Discursar é comunicar, falar com, para quem com quem. Não se esqueçam do emissor, do receptor e da mensagem. A mensagem é o que liga o emissor ao receptor. Não ignorar a audiência, se estou a falar e a audiência está a dormir, tenho de tirar uma consequência. Se estou a falar e todos os presentes estão a rir, tenho de perceber o porquê. A reacção da audiência é essencial para quem está a comunicar, daí nunca devemos ignorá-la.
Quinto conselho: Não esquecer que, excepto na rádio, os outros vêem o nosso discurso. Existe uma ideia errada de que não se “ouve” um discurso mas, sim, “vê-se” um discurso: ou seja, como se discursa. E portanto é necessário “representar” o discurso - comunicar não é só transmitir argumentos é também transmitir emoções. Fala-se com o corpo, com os olhos, com a face. Atenção à pose e à roupa (como referiu há pouco o Gonçalo). Não vale a pena apalhaçar. Há pessoas muito exuberantes nos gestos, que dão murros na mesa, etc.… isto reduz a eficácia e leva a que as pessoas se prendam ao acessório e não liguem ao essencial.
Existem algumas coisas simples – cuidado com os tiques, como o Gonçalo dizia há pouco quando referia aquela situação do Professor Cavaco Silva. Eu tenho duas sequências pequeninas para vos dar o exemplo: primeiro António Guterres… (É PROJECTADO, DURANTE ALGUNS SEGUNDOS, UM FILME DE ANTÓNIO GUTERRES). Bem podíamos continuar com outras imagens, estas são exemplo de um gesto que o Eng.º António Guterres fazia sistematicamente - segurar o cabelo. Em todas as aparições televisivas lá estava ele a segurar o cabelo, era um “dejá vu” que quando ele falava na televisão os espectadores já estavam à espera do referido gesto.
Outro exemplo, o Professor Marcelo Rebelo de Sousa que é um excelente comunicador e como vêem é algo que pode acontecer aos melhores (É PROJECTADO, DURANTE ALGUNS SEGUNDOS, UM FILME DE MARCELO REBELO DE SOUSA). O Professor Marcelo Rebelo de Sousa quando foi eleito Presidente do Partido deu uma entrevista à Margarida Amarante e ao Miguel Sousa Tavares. Nessa entrevista passou a maior parte do tempo a tomar notas, alternando entre a mão esquerda e a direita. Nas respostas, ele dava a resposta e escrevia. Isto ocorreu durante meia hora, a certa altura ninguém ouvia a entrevista e as pessoas estavam fascinadas com a troca de mãos. Existiu de seguida uma polémica sobre se a troca de mãos teria sido de propósito ou não. Mas o que é verdade é que esta brincadeira estragou a eficácia do discurso. As pessoas olhavam para a mão, olhavam para a caneta, tentavam perceber que notas ou desenhos estava a fazer e não ouviram aquilo que ele estava a querer comunicar.
Portanto, cuidado com os tiques. Isto vale na televisão, vale numa audiência, vale em qualquer circunstância. E nunca se esqueçam nunca daquela palavra: Um gesto vale mil palavras. Isso é verdade em qualquer comunicação.
Sexto conselho – Não falar sem sentir aquilo que se diz. Não façam discursos monocórdicos. Os ouvintes sentem quando se fala com alma, vocês viram a diferença com o Eng.º Carlos Pimenta. As pessoas sentem quando se fala com alma, as pessoas acreditam naquilo que estão a dizer. É totalmente diferente uma coisa fria de uma coisa sentida, vivida. Devem ilustrar os vossos argumentos com situações da vida quotidiana e falar a verdade, os vossos pensamentos, as vossas ideias, as vossas convicções, as vossas experiências – as pessoas sentem a diferença.
Sétimo conselho – vocês são jovens e se fazem a primeira intervenção num órgão é importante ganhar a audiência. Não existe problema em ser um bocadinho naïf, mas é importante ganhar a simpatia. Vejam este exemplo disponível na intranet (FILME PROJECTADO:
“Senhor Presidente, Senhores Deputados, como todos sabem, é a primeira vez que tenho a honra de me dirigir a esta Assembleia e queria aproveitar a ocasião para cumprimentar todos partidos, sem qualquer tipo de excepção. Eu gostaria de dizer que todos fomos eleitos legitimamente e que existe uma legitimidade para respeitar.
Gostaria também de dizer que nem sempre estaremos de acordo, mas espero muito honestamente que o debate decorra de forma civilizada tal como a nossa Democracia atingiu um grande grau de maturidade.
Muito obrigado”
É uma imagem muito simpática. Não disse muita coisa mas deixou uma imagem de simpatia, de cordialidade. A primeira imagem que se deixa na Assembleia, o primeiro discurso, é muito importante.
A mensagem é simples: sejam modestos sem serem humildes ou simplórios. A simpatia é uma arma que abre muitas portas.
Oitavo conselho – Não ser chato, ser breve e conciso. Geralmente falar em menos de vinte minutos. Agora no Parlamento Europeu estou mal habituado, porque as intervenções são de dois ou três minutos, quando tenho um relatório meu ou sou uma pessoa importante, sou eu que abro o debate e tenho “um tempo louco” de cinco minutos para fazer a minha intervenção.
E vamos ser claros: o tempo que eu e o Gonçalo estamos a demorar para fazer esta intervenção é excessivo.
Segunda imagem, não falar demais. Cuidado quando se fala de improviso, sem papel, é muito fácil a pessoa perder o controle do tempo.
Terceira ideia que pode parecer absurda mas importante – não falar depressa. Um Deputado, que hoje é Governador Civil, uma vez pressionado pelo Presidente da Assembleia que estava a acabar o seu tempo, acelerou a sua leitura. Foi a coisa mais absurda que ele fez. Existe também quem incorra no erro de falar lento demais, provocando, em discursos grandes, a perda do interesse do público (que, por vezes, pode adormecer).
Outra ideia que é muito importante é recusar o discurso redondo. Existe quem goste do narcisismo literário, mas esse não funciona no discurso. Existem discursos bem trabalhados, lindos, mas não funcionam na oralidade. Um texto bonito de ler não é eficaz para ser falado. Vou dar-vos dois exemplos e vou pedir ao Gonçalo, como Vice-presidente do Grupo Parlamentar do PSD, de me ajudar a fazer estes exemplos absurdos.
Discurso redondo – o texto é bonito porque é elaborado, é redondo e elegante mas vejam como funciona na linguagem oral.
PROJECTADO O FILME:
Deputado Gonçalo Capitão
“Ouve quem, decerto, sem intenção, colocasse em dúvida a legitimidade da nossa posição que quisemos aqui defender, esquecendo-se porventura que na composição da nossa pirâmide etária demográfica perto de quarenta e sete por cento da população se encontrar abaixo da linha demarcadora dos trinta anos.”
Deputado Carlos Coelho
Muito bem. Nós temos que pensar o que é que ele disse. Foi bonito mas o que foi que ele disse? O que ele disse foi simplesmente isto:
PROJECTADO O FILME:
Deputado Gonçalo Capitão
“E para quem queira colocar em causa a legitimidade da nossa posição, basta recordar uma frase simples que toda a gente entende: que metade da nossa população tem menos de trinta anos”. (RISOS)
Deputado Carlos Coelho
Foi isso o que ele disse. Sob o ponto de vista literário o primeiro texto é mais bonito, sob o ponto de vista da eficácia do discurso não existe comparação.
Recusar o discurso redondo. Falar é falar directo e falar objectivo.
Nono conselho – Nunca falar do que não se domina. Isto é um conselho essencial. Deve-se falar do que se conhece e nunca falar do que não se domina suficientemente.
Décimo conselho – Nunca decorar um discurso escrito porque as linguagens são diferentes. Existe um exemplo clássico de Winston Churchill, orador e depois Primeiro-ministro britânico fez um discurso, decorou-o e depois foi uma bronca porque não se lembrava de nada.
Deve-se fazer tópicos, segui-los mas decorar um discurso escrito não se recomenda a ninguém. Basta haver uma “branca” e com o nervosismo “encalha-se” e não se consegue falar.
Não se deve pedir a outra pessoa para escrever o discurso. Se o fizerem, corrijam-no com as vossas próprias palavras. Quando lemos um discurso feito por outrém, perdemos o falar com “alma”. As pessoas notam que não é o próprio que está a discursar. Portanto, atenção a este assunto.
Décimo primeiro conselho – Nunca descurar as defesas. É sempre bonito, sobretudo num discurso mais substantivo, incluir grandes princípios que todos têm de subscrever. Isto é pôr o adversário a dizer bem e não a dizer mal, cria defesas a quem está a intervir. Exemplo: “Não existe solidariedade sem reduzir a diferença entre os cidadãos”, “Não existe progresso justo em Portugal sem que ele se faça sentir em todo o País”, “Reduzir as assimetrias entre o litoral e o interior”. Quem é que vai discutir isto?
Informação, participação dos cidadãos, qualidade de vida, bem-estar, transparência da administração são grandes princípios que todos têm de subscrever.
E por vezes têm de antecipar argumentos. Nem sempre podemos responder mais tarde. Há um risco em não quer dizer tudo porque quer ter argumentos para quando lhe fizerem perguntas, mas se não lhe fizerem? Ficam por utilizar. Se não há a certeza da possibilidade em voltar a explicar é preferível utilizar os argumentos para dissuadir algumas críticas ou para desarmar o adversário. Esta gestão tem de ser feita criteriosa, tem de ser feita em cada momento.
Décimo segundo conselho – Responder que não se sabe. Assumir que não se sabe tanto, ninguém sabe tudo e há que não ter vergonha disso. Ser firme mesmo na ignorância. Não tem de saber tudo, é melhor do que dar o ar apatetado, a gaguejar, olhos esbugalhados. É impressionante, terrível, dramático em termos de eficácia do discurso.
Esse problema parece interessante... mas gostaria de pensar um pouco melhor antes de comentar. Isto é uma forma elegante de sair do assunto. Ou então, se quisermos dar graxa ao interlocutor dizemos: argumentou elementos novos que merecem reflexão... Se eu reagisse de imediato não lhe faria justiça, prefiro valorizar os seus argumentos, pesar nas suas opiniões e voltar ao assunto mais tarde.
É melhor dizer isto, do que fingir que se sabe e dizer a maior asneira. Já tive debates em que um ou mais interlocutores quiseram dar a ideia de sábios e espalharam-se. Isto é completamente ridículo, dá cabo da credibilidade de qualquer protagonista.
Décimo terceiro conselho – Ser firme, protegendo-se. Não afirmar peremptoriamente o que não se sabe ou de que não se tem provas. Há sempre a mania de começarmos “parece-me....” O parece-nos, não parece a melhor solução. Mas existem formas de arredondar a situação. Dou-vos alguns exemplos.
Primeiro exemplo: Imaginem alguém a dizer: “A confirmarem-se os rumores que correm, temos de apurar responsabilidades e tirar consequências....” Na política o adjectivo é muito importante – “temos de...” responsabilizar juridicamente e politicamente.
“A confirmarem-se os rumores, temos de tirar responsabilidades politicas e criminais...” Apimentando a situação fala-se aqui na hipótese de um crime. Ninguém pode acusar-me de nada porque estou apenas a pôr a hipótese – “a confirmar-se” temos de tirar consequências políticas e criminais.
Outro exemplo: “Estamos preocupados com as informações que circulam que, a confirmarem-se, são prova da mais grave irresponsabilidade e de aproveitamento ilícito de recursos públicos”. A expressão “é irresponsável” é muito forte, mas não podem pegar nela e acusarem-nos de calúnia.
Podemos até ser mais subtis. Ou seja, por vezes não convém falar nos rumores, mas basta dar-lhes visibilidade, trazê-los para a ordem do dia sem termos uma exposição tão grande. É isso que verão no seguinte exemplo. Imaginem que numa reunião alguém diz com ar sério: “boatos com esta gravidade tem de ser desmentido sob pena de minarem a credibilidade dos autarcas que, até prova em contrário, devem merecer a nossa consideração.”
Imaginem na nossa terra lançam uma boateira sobre o Presidente e nós na Assembleia Municipal podemos ir até ao fundo, sem levantar as questões da mesa, dizer que estamos muito preocupados com a credibilidade e que os boatos têm de ser desmentidos. Não fazemos mais nada senão dar visibilidade ao mal-estar. Este pode ser outro conselho de ser firme, protegendo-se.
Penúltimo conselho, o Gonçalo já falou disso – Nunca atacar com maldade mas dosear com agressividade. Evitar ataques pessoais, insinuar com fundamento e com clareza e quando somos atacados reagir com indignação, deixá-los envergonhados.
O Gonçalo ajudou a reproduzir três situações, imaginem que somos violentamente atacados pelo PCP, pelo PS ou pelo CDS/PP e queremos feri-los onde eles são sensíveis. Isto quer dizer, não vamos discutir a matéria da calúnia, mas dizer que eles não têm autoridade moral para fazer aquilo que estão a fazer. E aí devemos reagir com indignação. Diz o povo “quem não se sente não é filho de boa gente”. Somos atacados sem razão, de forma suja, temos o direito de nos defender.
Vamos supor que o PCP faz um ataque pessoal, desagradável ao Gonçalo.
PROJECTADO O FILME:
Deputado Gonçalo Capitão
Não deixa de ser surpreendente que o Partido Comunista que tanto sofreu para que pudéssemos hoje ter a nossa liberdade, incorra agora naquilo que acusou os fautores do antigo regime: o ataque pessoal, a calúnia, a difamação e em certos aspectos a tortura psicológica. A história encarregar-se-á de remeter o Partido Comunista para a arqueologia. Agradecíamos que fossem mais correctos.
Deputado Carlos Coelho
Reparem, o pior que se pode dizer a um comunista é que ele está a fazer como os fascistas. Estamos a carregar onde lhes dói ao dizer-lhes que estão a fazer igual ao antigo regime. Estamos a criar-lhes problemas com os argumentos deles. Agora, imaginem que é o PS que ataca o nosso Deputado preferido.
PROJECTADO O FILME:
Deputado Gonçalo Capitão
É lamentável que o Partido Socialista que sempre se pautou por uma política correcta tenha trocado o seu comportamento por uma atitude politiqueira. O Partido Socialista é demasiado essencial à nossa democracia para que possa agora trocar a ideologia pelo teatro.
(UM MINUTO INAUDÍVEL NA GRAVAÇÃO)
Deputado Gonçalo Capitão
(…) Jovens que tomam umas pastilhas quando vão a ouvir música tecno – vocês sabem que é uma coisa que se faz hoje em dia e não vale a pena estarmos com rodeios. Há outra moda extraordinária nos Estados Unidos (começa a chegar a Portugal) e que eu acho que é a negação da essência humana e do que é um jovem: as “happy hours” para solteiros. Não sei se o Carlos é um frequentador assíduo? (RISOS), agora falando sério, eu também sou solteiro e costumo ir com ele (RISOS e PALMAS).
Pensem bem: quando várias pessoas têm que se encontrar em determinada hora no bar para ver se conhecem alguém de quem gostem, podem ver como está a ficar o nosso Mundo. Vejam como se calhar já não estamos a ter emprego e estamos a ter novas formas de escravatura. Por outro lado, nós já não somos donos nem do ter nem do ser, hoje há créditos para quase tudo: pagamos a casa a prestações, carros a prestações, viagens a prestações, férias a prestações. E já há uma coisa extraordinária, os bancos competem entre si para ver qual deles nos vai dar a maior possibilidade de levantamento a descoberto. Isto é gastar o que não temos, este é um Mundo para o qual devíamos alertar a nossa rapaziada.
Mas não serve de nada alertar se não o sentir. As pessoas irão percebê-lo. e
Há um conselho um pouco moralista que eu vos quero dar, (já o dei no último Congresso, aos que lá foram), que é este: estudem, tenham emprego, qualifiquem-se. Salvas raríssimas excepções se o não fizerem estão a vender aquilo que são ao Partido, ao lugar. Estão a ter de calcular antes de poder dizer que sim ou que não e aí nem a técnica vos salva porque se forem só técnica, não têm alma e se não tiverem alma deixam morrer a democracia. Isto que dissemos não serve de nada se não acreditarem. (PALMAS)
Jorge Nuno Sá
Vamos passar às questões. Hoje não trago telemóvel, por isso não adianta inscreverem-se via SMS (RISOS). Começamos com o grupo amarelo.
Márcia Silva – Grupo Amarelo
Bom dia a todos. Em nome do grupo amarelo a nossa pergunta é a seguinte: até que ponto o uso de ironias e piadas na hora certa ou errada poderá favorecer ou prejudicar um determinado candidato num debate público?
Deputado Gonçalo Capitão
Se pode prejudicar? Pode! Eu fui acusado disso e ainda hoje sou.
Como calculas, tenho uma maneira de ser um pouco diferente do Deputado convencional, mas não é de todo inédita. Agora, no início, eu cometi um erro que é preciso controlar. Metia demasiadas graças e, a certa altura, as ironias e as graças eram tão concentradas que não ficava nada do conteúdo.
E não vale a pena tentar brincar a despropósito: houve um Ministro do Ambiente do Prof. Cavaco Silva que contou uma anedota em público e tinha tanto jeito para contar anedotas que teve que se demitir a seguir. A anedota foi uma infelicidade. O Ministro Carlos Borrego, dizem-me que era um Ministro qualificadíssimo, mas teve que se demitir.
Primeiro ponto: É preciso ter jeito para esse estilo, há outros estilos tão bons como esse. Em segundo lugar: O maior risco é: Ironias demasiado cruéis vitimam o adversário e este sai por cima porque é a vítima - o português não gosta de ver ninguém pisado.
Em relação às graças, se meteres muitas graças no mesmo discurso as pessoas só se vão lembrar das graças.
Eu hoje (mas estamos numa sessão informal), abusei das graças. Se fosse um discurso político, um comício, uma conferência ter-me-ia poupado um pouco nas graças porque há sempre o risco de ficar só a graça.
Jorge Nuno Sá
Grupo laranja e é a Joana White que coloca a segunda questão.
Joana White – GRUPO LARANJA
Bom dia. A pergunta do grupo laranja é a seguinte: o aparecimento de novas tecnologias de comunicação, nomeadamente a Internet e a vídeo-conferência, veio revolucionar o modo de fazer e comunicar em política?
Deputado Carlos Coelho
Sem dúvida. A Internet é o caso mais claro. Hoje há uma grande emergência de sites - todos vocês são frequentadores da Net e sabem isso. É um instrumento cada vez mais utilizado. Quer pela capacidade de apresentar informação para toda a gente quer pela possibilidade de fidelizar destinatários quase a custo zero. O caso das mailing list: nós podemos ter comunicação regular com os militantes da Secção, com simpatizantes com quem se inscreve no site, praticamente a custo zero. Há o custo da produção da mensagem mas depois o custo do envio é de borla porque é da Net.
Já a vídeo-conferência não está ainda muito utilizada para efeitos de política. É usada em condições institucionais isto é, troca de experiências entre Parlamentos, pessoas que estão distantes, etc. Depois há a teleconferência doméstica, aquela que nós fazemos com a câmara e podemos falar com pessoas que estão longe – ou seja, usada para conversações de natureza particular e não política.
Tem havido algumas experiências, designadamente conferências ou grandes eventos que são produzidos em tempo real na Net mas eu não diria que para já seja um grande instrumento. Não tem sido utilizado, pode vir a ser no futuro e possivelmente sê-lo-á. A Internet, de um modo geral, é já um instrumento relevante na forma de fazer política e transmitir mensagens.
Deputado Gonçalo Capitão
Nós vamos fazer isto em dueto porque todos os bons discos incluem um dueto. (RISOS)
Há um outro elemento: os telemóveis de 3ª geração vão ser uma espécie de videoconferência. Vão surgir em força, trazendo toda a facilidade de comunicar à distância. E com toda a perda de privacidade que isso envolve.
Quanto à NET, eu quero acrescentar uma coisa ao que disse o Carlos: a Internet possibilitou o que nem Atenas possibilitou: o sonho duma democracia totalmente directa em que todos participam. Nem em Atenas era possível. O problema é que também possibilita mensagens mais agressivas.
No ano passado houve um problema com isso, (ao abrigo de anonimato podemos dizer as coisas mais vis mais soezes em blogs e outras coisas sem termos que responder por elas): as correntes neo-nazis têm redes na Internet que usam para comunicar entre os seus elementos. Depois a democracia perde, porque a mensagem pela Internet é mais breve e é mais simples, não há o debate não há a troca de ideias que havia no real.
A tranquilidade é esta: já há autores norte-americanos que dizem que a Internet acabará por reproduzir o Mundo real - os sites mais consultados são aqueles onde se gasta mais dinheiro, quem tem mais dinheiro vai passar melhor a mensagem e por outro lado, se no início as correntes marginais tinham grande implantação na Internet, hoje em dia (por exemplo) nos EUA, o Partido Republicano e o Democrata são os que têm mais gente on-line.
Jorge Nuno Sá
Muito bem, grupo verde e é a Carla Costa que fala.
Carla Costa – GRUPO VERDE
Bom dia, antes de mais gostaria de agradecer a oportunidade que me foi dada de frequentar esta Universidade de Verão e em nome do grupo verde colocar duas pequenas questões.
A primeira, o Gonçalo falou em fazer circo em política, gostaríamos de perguntar se é necessário fazer-se circo para ganhar votos? E também se existem alturas em que o político não deve falar claro? E se existem, quando? E já agora, um dos conselhos que deram para falar bem, é olhar de frente para as pessoas ou pelo menos fixar um ponto por cima da última cabeça. Nós gostávamos saber como é que o Gonçalo consegue fazer isso se o microfone lhe dá pela cintura. (RISOS)
Deputado Gonçalo Capitão
Geralmente, os microfones da Assembleia fazem isto (O ORADOR LEVANTOU O BRAÇO DO MICROFONE), e eu posso olhar. Não é uma coisa fácil de se fazer nas primeiras intervenções. Mas perde-se em termos de som: deviam ter microfones para deficientes na Assembleia (RISOS).
A pergunta do circo: se os políticos devem dizer a verdade e, por outro lado, se é possível fazer política sem circo.
Vamos acreditar que sim. Isto é, eu não acredito que o Dr. Santana Lopes, o futuro líder do PS, o Dr. Carvalhas, o Dr. Louçã (neste caso com alguma boa vontade minha), eu não acho que sejam propriamente palhaços. Têm uma maneira diferente de dizer as coisas mas não são palhaços da política.
Agora se me falarem no modelo Avelino Ferreira Torres, isso é palhaçada, é circo. mas também já não é política. A política não é circo, agora não confundam o seguinte, não se deixem abater por aqueles tipos cinzentos (que não têm jeitinho nenhum para impressionar plateias) que dizem que só podem falar com palavreado quadrado que têm que tratar o outro por V. Exa. Isto também não é nada, os meios mudaram, hoje em dia comunica-se através da televisão em 30 segundos. Eu tenho que fazer isto por uma questão de honestidade intelectual, mas o Carlos, não concorda comigo quando eu digo que o debate na Internet (com mensagens curtas e sucintas) enfraquece a democracia. É uma matéria que podemos discutir noutro fórum, mas o meio de comunicação é diferente. Se formos para o discurso clássico (com os vexa, etc), como fazem ainda algumas pessoas do nosso partido, o normal é a malta adormecer, distrair-se, falar para o lado, não ligue nenhuma.
Jorge Nuno Sá
Grupo bege, Elisabete Muga.
Elisabete Muga – GRUPO BEGE
Bom dia. O grupo bege tem uma pergunta bastante directa e que se prende com o antigo Governo do Dr. Durão Barroso.
O Governo de Durão Barroso foi acusado de não ter uma boa política de comunicação. E nós gostávamos de saber o que é que falhou?
Deputado Carlos Coelho
Eu acho que falhou muita coisa.
Vamos ser claros. Quando o Jorge Nuno e o Gonçalo mostraram a mensagem, viram que Mensagem é aquilo que liga o emissor ao receptor e o Governo não foi capaz de construir esta mensagem ligando o emissor (o Governo) ao receptor (opinião pública).
Em abono da verdade devemos dizer que esta é uma linha muito delicada porque nós não podemos confundir informação com propaganda e os governos (quando fazem informação) são atacados pelas oposições de estarem a fazer propaganda. Às vezes fazem uma contenção excessiva, outras vezes é o peso da nossa administração. Nós temos uma administração muito imperial, burocrática, assente na lógica da hierarquia. O funcionário típico de topo, um Director Geral de carreira, não percebe muito esta ideia de termos que dar explicações às pessoas. Ele tem razão: a lei diz que se faz assim porque é que temos que estar a informar e a explicar?
Há um conjunto de circunstâncias quer por via da administração quer por via do combate político que muitas vezes inibe os governos de fazerem melhor aposta na informação. Eu acho que foi esta percepção que falhou.
Depois, perdoarão, esta é uma opinião muito pessoal, falhou outra coisa (que falha há muito tempo, falhou com o Prof. Cavaco Silva, que foi um Primeiro-Ministro notável) que é a função do partido. Eu acho que quando nós estamos no Governo olha-se para o Partido como uma máquina eleitoral.
Disparate, o partido deve ser uma máquina de combate político e muita da informação devia ser passada exactamente através das estruturas do PSD.
Nós somos militantes com responsabilidades, há muitas coisas que se fazem no Governo que nós não fazemos ideia que aconteceram - não temos informação. A comunicação social não falou e nós não sabemos.
Sobretudo, não sabemos o porquê, ninguém nos disse o porquê e devia haver canais de informação privilegiados que nos dessem esse argumentário.
Acho que foi tudo isto que falhou, vamos ser claros, não sou muito optimista, acho que tenderá a falhar em sucessivos governos. Isso depende da ajuda de todos nós através da nossa prática e da nossa militância no partido, para ir corrigindo e melhorando as coisas a pouco e pouco.
Jorge Nuno Sá
Luís Capão do grupo encarnado.
Luís Capão – GRUPO ENCARNADO
Antes de mais, agradeço os 15 conselhos para falar bem. Estas as primeiras vezes que falei, estou meio nervoso. Acho que vou começar a ler isto todos os dias antes de dormir - pode ser que comece a acalmar mais.
A pergunta do nosso grupo prende-se com a disciplina de voto. De que modo pode condicionar opiniões genuínas, por exemplo, em conferências de imprensa ou entrevistas espontâneas, em que uma pessoa se sinta na dificuldade em dizer exactamente o que sente? Porque não sabemos ainda o que dizer ou qual vai ser a disciplina de voto, principalmente num partido com tanta representatividade como é o nosso PSD.
Deputado Carlos Coelho
Pergunta muito interessante e muito obrigado pela pergunta.
Há duas dimensões naquilo que o Luís referiu, eu quero começar pela lógica do embaraço: damos uma conferência de imprensa e fazem-nos uma pergunta para a qual não estamos preparados.
Isso é essencial: nós somos donos da nossa imagem e donos da nossa palavra. Se eu convoco uma conferência de imprensa para falar das vacas loucas e me perguntam qual é a minha opinião sobre as portagens na auto-estrada, a única coisa que tenho que dizer é “eu tenho uma opinião sobre isso mas não é para isso que estamos aqui a falar, a nossa reunião hoje é para falar das vacas loucas, portanto eu não vou falar nem dos frangos nem dos ovos nem do sistema educativo nem no saneamento básico ou do barco do aborto, esta conferência de imprensa é para esta matéria”.
No contacto com os jornalistas nunca se deixem cair nessa armadilha porque se permitirem perguntam-vos tudo. Ou como aconteceu uma vez em que perguntaram a um deputado “quem é que foi o Rei X”, ou “como se pronuncia Maastricht” ou outras coisas completamente idiotas. O contacto com os jornalistas é balizado pela nossa iniciativa, a menos que seja uma entrevista. Aí pode-se estabelecer que a entrevista seja circunscrita a determinado tema ou estar preparados para uma maior variedade de assuntos. Numa conferência de imprensa é só sobre o assunto que temos em cima da mesa!
Agora, como é que nós conciliamos a disciplina com a opinião individual?
Depende das matérias, esta minha resposta é heterodoxa. O valor da solidariedade é um valor muito importante. Imaginem que nós os três pertencemos à Comissão Política, e decidimos que vamos apoiar o Governo na decisão que tomou relativamente ao Barco do Aborto. Eu sou o porta-voz da Comissão Política mas não concordo com a decisão e estou até muito contrariado com a decisão, mas aceito o jogo democrático: votámos e eu perdi. O que posso é pedir escusa, ou seja, não ser eu o porta-voz para não ter que dar a cara por uma posição em que não acredito. Mas não venho cá para fora dizer que aqueles dois são idiotas, tomaram uma posição completamente absurda, que eu é que tenho razão! Isso não faço, isso é uma deslealdade, o facto de estarmos em Partido obriga-nos a ter um comportamento solidário com os nossos colegas.
Agora, vamos ser claros, há matérias em que é exigível que o Partido não imponha disciplina de voto.
A JSD, na minha altura, pronunciou-se contra o PSD, tivemos uma guerra grande exactamente por causa do Aborto. O Partido decidiu uma disciplina de voto. Mas a posição da JSD não era essa, era a favor do Aborto. E o Presidente da JSD, na altura era o Pedro Pinto, votou em sentido diferente do PSD e teve um processo disciplinar. E todos nós, incluindo eu que era contra o Aborto, tivemos ao lado do Pedro porque a questão era de princípio. Em matérias de consciência individual não há espaço para a disciplina partidária.
Eu creio que essa diferença tem que se fazer. É um combate que às vezes é doloroso, às vezes tem custos mas que se deve fazer e que a JSD esteve sempre, a meu ver, no bom caminho.
Questões de consciência individual não são questões susceptíveis de serem decididas em regime de disciplina partidária.
Deputado Gonçalo Capitão
Só para dar um enquadramento meu a isto, queria dizer que é preciso ter muito cuidado, mesmo quando se diz apenas o que se quer.
O Jorge Nuno pediu-me para contar este exemplo: por alturas do último Congresso da JSD, a TVI (sempre a TVI, claro), a mesma que vêem os eleitores do Prof. Seara, andou a fazer perguntas a jovens dirigentes que estavam de saída e a jovens dirigentes que já tinham saído. Eu e o Jorge Nuno, em alturas diferentes, caímos num beco sem saída. O Jorge Nuno foi com as drogas leves: fizeram-lhe uma pergunta e ele tinha duas hipóteses, ou mentia e contraditava um historial de posições políticas da JSD ou dizia a verdade e arriscava-se. Pelo que se viu, ficou como o “charrado” da entrevista. A malta chegou ao Congresso e comentava: “Viram aquela entrevista do Jorge Nuno?” o que é que queriam que o Jorge Nuno dissesse? Ele nem sequer sabia que podia haver aquela pergunta.
Comigo foi diferente, que era a questão das perguntinhas preparadas: “vê-se a fazer mais alguma coisa na vida?” Estão a ver qual era a resposta pretendida? “Não! Eu sou um cretino, vivo disto!!!”. Claro que lhe disse que tenho um emprego quando voltar, vou tratar da minha vida académica, vou fazer o meu doutoramento. Borrifou-se! Não ligou mais nenhuma àquilo. Depois a segunda foi complicada (no meio metem palha para vos adormecer) e a pergunta era: Então e a política é um exercício compensador? (cifrões…). Eu disse que ando nisto desde os 15 anos e, por isso, ter a oportunidade de me bater pelos meus ideais é a coisa mais compensadora do Mundo.
Onde é que eu, finalmente, sou apanhado? E vejam se tinham outra resposta para dar: “há carreiristas nas Juventudes partidárias”?
Aqui eu podia-me fazer ainda de mais parvo, dizer “não, não há nada”. Mas disse: “claro que há! Há nas Juventudes partidárias, há nos partidos, há nos órgãos de comunicação social, há nas empresas e há em todo o lado”. Adivinham o que é que passou depois na TVI? Há efeitos que não se controlam.
Em segundo lugar, invocaste um debate que não é resolvido desde a Revolução Francesa, que é o mandato livre e o mandato vinculado. Eu sou o titular dos votos e portanto digo o me vai na “realíssima gana” ou estou vinculado ao partido que me propõe para Deputado? E aí dava-me vontade de falar dos círculos uninominais, mas não posso.
Não tens solução para isto e é o que diz o Carlos, eu tinha as mesmas notas antes dele falar, o que quer dizer que não serei original.
Ser solidário e respeitar as regras democráticas não é ser mais estúpido ou menos inteligente: é a regra do jogo democrático. Sobre o Aborto, eu e o Jorge Nuno fomos os primeiros subscritores de uma declaração de voto em que discordávamos frontalmente do que se ia fazer na Assembleia da República. E enquanto andavam atrás de nós para prestarmos declarações nós dissemos que não o fazíamos. Sabemos o valor da democracia e sabemos que o Presidente do nosso Partido fez uma promessa eleitoral de só rever a matéria por referendo e depois de 2006. E eu não me considero menos inteligente por ser solidário.
E a tua pergunta é se a disciplina partidária impede de dizer o que queremos? Resposta: Sim.
Jorge Nuno Sá
Eu gostava de acrescentar algumas coisas mas sou o moderador.
Grupo roxo, Ana Ferreira.
Ana Ferreira – GRUPO ROXO
Bom dia todos. Estejam descansados que desta vez não vou pedir emprego (RISOS).
O grupo roxo pergunta se o facto de ser um bom orador não faz com que a certa altura se perca a possibilidade de se fazer uma boa política. Também gostaríamos de perguntar se o Dr. Pedro Santana Lopes está onde está pelo facto de ser um bom orador ou por ser um bom político?
Deputado Gonçalo Capitão
Depois dás-me o teu nome completo, nº de militante e passas na jurisdição a entregar os papéis, está bem? (RISOS)
Estás a falar dos “políticos invólucro”, aqueles sem conteúdo. Recomendo-te o exemplo de Fernando Collor de Melo, no Brasil. Era um “tipo” (diziam as senhoras) bem-parecido, jovial, tinha colocação, era um ensaiado, ao ponto dos assessores terem dito para não fazer uma marcha política à chuva mas ele sai para a chuva, vai em frente e o povo começa a juntar-se a ele. Outro exemplo do Collor, aquela célebre frase dele “vamos caçar marajás”, pega muito bem.
Mas depois veio a ver-se que o Collor era uma fraude, um corrupto. Se querem saber, apesar de ser um homem inteligentíssimo, eu hoje acho que o maior embuste nacional se chama Francisco Louça.
Não exibindo qualquer espécie de respeito pelas posições dos outros, promete coisas que se tivessem de ser concretizadas por um Governo dariam zero porque são impossíveis. Um Programa de Governo do Bloco resumia-se a umas ressacas, uns abortos, nacionalizar isto tudo, não dava certo. Eu aliás estou a sonhar com o dia em que o Dr. Louçã vá para o Governo do PS que é para os eleitores deles o matarem no primeiro comício porque ele não pode fazer aquilo. Isso é a política fraudulenta.
Quanto ao Dr. Pedro Santana Lopes, creio que não sou isento: gosto muito dele. Se vocês tiverem o cuidado de observar muitas das intervenções dele são carregadas de sentimento, às vezes é acusado de ser impulsivo, reagir muito frontalmente. Quem fala com sentimento não é uma pessoa só de imagem. Agora tu podes dizer-me: eu gostava que o Dr. Pedro Santana Lopes soubesse de cor a “British Pharmocopeia”. Se calhar há políticos com mais densidade académica nos seu discursos. Mas eu acho que é muito mais eficaz aquele estilo de comunicação.
Se admites a hipótese académica de o Dr. Pedro Santana Lopes ter chegado onde está se dever apenas a ser excelente comunicador então terás em primeiro lugar de dizer àqueles conselheiros todos que votaram nele (onde estão militantes reputadíssimos e antiquíssimos do partido) uma de duas coisas: os senhores são “estúpidos” ou são “seguidistas”.
E há sempre a hipótese de se ir ao próximo Congresso do PSD dizer; “o senhor é uma embalagem sem conteúdo”. Eu por acaso acho que não, acho que ele tem muito conteúdo e gosto muito dele e acreditem que não estou a dizer isto por ele ser Presidente do Partido porque nunca me ouviram dizer isto sobre o anterior Presidente do Partido apesar de o respeitar muito.
Acho que no nosso Partido com tanta história com tanta gente crítica (como a que está aqui na Universidade de Verão) não é possível elegermos uma fraude. Podemos enganarmo-nos um dia deste, (é humano), agora creio que na política portuguesa, tirando o Dr. Francisco Louça e outro político que eu não posso mencionar sob pena de causar problemas na coligação (RISOS), acho que ainda estamos bem.
Jorge Nuno Sá
Grupo castanho, Orlando Marrocano.
Orlando Marrocano – GRUPO CASTANHO
Gostava de perguntar se é mais fácil ser Governo ou ser oposição?
Geralmente, no caso do Partido Socialista tem-se visto que quando está na oposição até é bastante combativo e até acerta bastante na “mouche” e quando é Governo não tem jeito nenhum para aquilo.
Deputado Carlos Coelho
É daquelas respostas que não têm um sim e um não claros. Depende muito das opiniões. Eu vou dar a minha.
Eu acho que do ponto de vista da liberdade do discurso é muito melhor estar na oposição. Muitas vezes, a circunstância de estarmos no poder inibe-nos de dizer algo ou estamos confrontados com um grau de exigência e responsabilidade que baliza muito os espaços de intervenção.
Agora sob o ponto de vista da eficácia do discurso e da sua fundamentação, se quisermos pensar no discurso do ponto de vista da seriedade, é melhor estarmos no poder, porque temos mais informação, mais dados, mais consequência daquilo que dizemos. Depende da perspectiva, quem quer falar livremente, a oposição é melhor; quem quer ser consequente, o poder é mais confortável.
Jorge Nuno Sá
Grupo azul, Nuno Presumido.
Nuno Presumido – GRUPO AZUL
Bom dia. O grupo azul elaborou a seguinte questão.
Diz-se muitas vezes que por trás de um grande homem existe uma grande mulher. Será que não é necessário ter uma vida emocional estável do ponto de vista familiar, uma estrutura forte, sólida para se singrar como político?
Jorge Nuno Sá
Não sei qual dos três estás a tentar atacar. (PALMAS)
Deputado Carlos Coelho
Essa frase é uma frase muito conhecida embora muito machista. Presume que o protagonista é o homem e que a mulher está atrás e é uma forma de valorizar a mulher. Nunca se diz “por trás de uma grande mulher está um grande homem”, até porque isso permitiria outras interpretações (RISOS).
Eu acho que é muito importante sermos pessoas estáveis, pessoas equilibradas. Na política como na vida gente desequilibrada não é fiável. Cada um encontra os seus equilíbrios e falo da forma como cada um quer traçar o seu caminho.
Não acredito sinceramente que o problema se coloque sob esse ponto de vista eu acho que é mais uma imagem, um estereótipo social que identifica a ideia da família feliz e isso às vezes existe e outras vezes não. Devo dizer que para mim é mais revoltante a família feliz hipócrita. Conhecemos exemplos disso, em que o marido e a mulher estão casados há 40 anos, têm filhos e são muito felizes e, quem sabe, aquilo não funciona e têm vidas completamente diferente e essa é uma forma de se apresentarem perante a sociedade. Um cartão de visita. Há pessoas que o fazem por interesse.
Acho que temos que separar a exigência legítima do estereótipo social.
O caso mais flagrante talvez seja a sociedade americana, com todo puritanismo que lhe está associado, segue algumas imagens feitas.
Creio que pessoas inteligentes têm obrigação de separar trigo do joio.
Deputado Gonçalo Capitão
Carlos se me dás licença. Eu gostava só de ir direitinho à pergunta que das duas uma ou eu estou a ficar doido ou pediam uma resposta destas. Às vezes um “tipo” pode não ter uma grande mulher ao lado mas várias (RISOS)
Não, não era a resposta que eu queria dar. Uma pessoa pode não ter a célula familiar clássica mas encontrar apoio numa magnífica quantidade de filhos ou em belíssimos amigos. Eu por exemplo nunca fui casado nem nunca vivi com ninguém e não me considero um “tipo” desequilibrado. Tenho uns momentos, mas para isso tenho os amigos. (RISOS)
Por outro lado é o que diz o Carlos: mais vale não ter um casamento e fazer política com gosto e estudar os assuntos, ocupar o tempo, do que ter “garrafa no elefante” e fingir que se é feliz em casa.
Jorge Nuno Sá
Grupo cinzento, Andreia Aguiar.
Andreia Aguiar – GRUPO CINZENTO
Muito boa tarde. Quero desde já e em nome do grupo cinzento agradecer a disponibilidade que os oradores tiveram em deslocar-se à Universidade de Verão para virem falar deste tema. (PALMAS).
Provavelmente saberão, veio na imprensa, que aqui na Universidade de Verão se estão a formar futuros quadros do partido. Isto é verdade?
Até que ponto também é saudável esta informação e o fomentar a competição entre nós?
Deputado Carlos Coelho
Andreia, a pergunta é muito interessante mas foge ao tema.
Vocês são todos militantes da JSD - com uma ou duas excepções de independentes que foram convidados por colaborarem connosco e portanto têm actividade política. Sei que muitos não têm actividade política muito activa, fazem parte daquele conjunto de militantes adormecidos, mas são militantes da JSD.
Sob este ponto de vista, a Universidade de Verão foi constituída duma forma diferente da anterior. A anterior teve pessoas propostas pelas estruturas e portanto era gente mais envolvida. Desta vez, por decisão partilhada com O Presidente da JSD, demos oportunidade a todos os militantes.
Enviámos 40 mil cartas assinadas por mim e pelo Jorge Nuno, cartas que receberam em casa. Responderam-nos cerca de 400, 1%. Bem sei que as cartas foram muito em cima da hora, que muitos tinham férias organizadas e que esta altura não é a melhor para quem tem exames mas houve quatrocentas pessoas, devo confessar que estava à espera de um bocadinho mais (ainda bem que não foram mais porque o processo de selecção foi muito complicado…).
A selecção até pode estar erradíssima - assumo a sua responsabilidade - na minha opinião, vocês são os melhores. Foi esse o critério. O comité de selecção não era só eu, foi uma decisão partilhada por outros responsáveis: vimos os vossos currículos e as vossas razões que indicaram para vir aqui. Vimos os vosso retratos psicológicos e definimos uma grelha de equilíbrio entre homens, mulheres, regiões e idades.
Agora perguntam-me. Qual é o objectivo?
O objectivo é apostar naquilo que achamos ser a qualidade. Vocês são os melhores e se vocês são os melhores - desculparão que vos diga com toda a sinceridade - não têm o direito de ficar em casa. Há dois tipos de jovens como há dois tipos de pessoas. Ou a Maria vai com as outras que põe as pantufas ou se refugia na evasão e se marimba para aquilo que está à volta e para a sua responsabilidade cívica e política e há quem assuma a responsabilidade de pensar diferente, fazer diferente, de ajudar a mudar. Se vemos que as coisas estão más, não nos podemos esquecer que esta vida não tem livro de reclamações, temos obrigação de participar.
Não sei se todos vocês vão sair daqui a participar, mas quero acreditar que muitos que não pensavam em participar de forma activa, terão opinião diferente no final da Universidade de Verão. Essa é uma responsabilidade em que ninguém pode substituir. A decisão de pôr a mão na consciência e ver o que se quer fazer da vida e da sua dimensão cívica, pertence a cada um. A nossa responsabilidade, se acreditamos a sério que vocês são os melhores, é dar-vos instrumentos para o fazer e ajudar-vos nessa caminhada. É só isso que estamos a tentar fazer, modestamente, à nossa maneira. (PALMAS)
Deputado Jorge Nuno Sá
E para terminar a ronda dos grupos, é o grupo rosa, Susana Faria
Susana Faria – GRUPO ROSA
Boa tarde. Acha que o Dr. Santana Lopes vai privilegiar o lado da comunicação em detrimento da eficiência de governação?
Na sua opinião quais são as ideias para o País que ele defendeu com mais convicção?
Deputado Carlos Coelho
Eu acho que o Deputado Gonçalo Capitão já respondeu em parte a isso.
Nós não podemos atacar por um lado e pelo outro. Há pouco um de vós recordava e bem as fragilidades de comunicação do Governo e havia uma crítica que muitos faziam: o Governo tinha pouca preocupação com imagem e comunicação. Nesta sociedade de informação, isso é essencial.
Agora ataca-se uma pessoa que pelos vistos tem excesso de imagem ou excesso de preocupação com isso.
Não vejo problema nenhum em um dirigente político ter cuidado com a sua imagem e cuidado com aquilo que diz e cuidado com as mensagens que passa. Não vejo que haja qualquer problema com isso: o que eu não quero é que ele se esvazie nisso porque então é só fumaça, não tem conteúdo.
Quero acreditar que o Dr. Santana Lopes, que conheço há muitos anos, não é só imagem, só fumaça. Mas o tempo o dirá e todos nós vamos ser juízes dessa avaliação. Não vale a pena estarmos com preconceitos a atirar pedras antes de tempo. Vamos ver quem é que tem razão. Eu quero acreditar que vamos sair bem dessa avaliação.
À sua pergunta sobre as ideias fundamentais, podemos dizer muita coisa. Acho que são três as ideias mais claras neste momento.
Primeiro, a continuidade no rigor orçamental. O Dr. Santana Lopes não disse: “Dr. Durão Barroso e a Dra. Ferreira mandaram apertar o cinto mas eu agora venho gastar aquilo que eles deixaram”. Não o disse. Bem pelo contrario e isso foi uma posição de responsabilidade.
É essencial para Portugal, para a saúde das suas finanças públicas e afirmação de credibilidade internacional, manter o esforço. Esta é a primeira ideia, uma ideia essencial.
Segundo, olhar para os desfavorecidos, preocupação social.
Foi uma constante no discurso de tomada de posse, do Programa do Governo e do seu discurso. O lado humanista, olhar para os desfavorecidos. Pode ter ou não tradução nestas propostas dos escalões do IRS. Esta é uma preocupação no discurso dele.
Terceira, pactos de regime, ou seja, a ideia de que há questões no País que são tão importantes que não podem ficar condicionadas pelo “timing” da legislatura ou pela dialéctica poder/oposição e que estes devem encontrar uma via comum para, relativamente a algumas medidas, para além da luta partidária e poder perdurar para lá dos quatro anos da legislatura.
O primeiro caso foi a Justiça, na sequência de um pedido do Presidente da República, em que o Primeiro-Ministro desafiou a oposição para fazer um Pacto de Regime. Não vi reacção do maior partido da oposição. Não reagiu, está objectivamente sem liderança.
E sobre a questão da Educação (permitam a confidência) há três meses estive no Porto, a convite das Edições ASA, a presidir ao encerramento dum grande Seminário sobre a Educação. Tinha na mesa pessoas como o Prof. Joaquim Azevedo, acho que é das pessoas que mais sabe de Educação em Portugal, e o Prof. Santos Silva, que foi Ministro de Educação do PS. Acabáramos de votar na Assembleia da República, por maioria, a Lei de Bases da Educação (que o Presidente da República devolveu ao Parlamento, fez veto político recusando-se a assinar) e eu virei-me para o Prof. Santos Silva e disse-lhe que não percebia como é que eles caíram nesta situação. Acho criminoso uma Lei de Bases do Sistema Educativo ser aprovada só pela maioria, mas reconheci que havia culpa dos dois lados.
Há culpas do Governo também. É como nos divórcios, a culpa nunca é só de um lado. Agora imaginem isto: está esta coligação no Governo e faz a sua Lei de Bases do Sistema Educativo; quando o PS voltar ao poder (espero que daqui a muitos anos mas possivelmente daqui a seis segundo a normal alternância) vão alterar a Lei. E se eles só durarem quatro anos, lá estamos nós outra vez a alterar. E o sistema pode andar assim às reviravoltas na sua estrutura essencial?
No percurso educativo, que tenderá a ser de 12 anos, os jovens serão sujeitos a sistemas educativos totalmente diferentes, sem coerência? Cada Governo que veio quis fazer as suas inovações e alterações! É um absurdo.
Se há matéria em que é necessário haver um pacto de regime é esta das bases do sistema educativo.
Estas três ideias, acho que são três ideias muito positivas do nosso Primeiro-Ministro e Presidente do Partido.
Jorge Nuno Sá
Nós não vamos pedir a defesa de honra por ter estado na negociação da Lei de Bases da Educação (RISOS), nem eu nem o Gonçalo.
Vamos a perguntas individuais. Comecemos pelo Hélder.
Hélder Baptista
Bom dia Senhores Deputados Carlos Coelho e Gonçalo Capitão.
Antes de mais gostava de agradecer ao nosso Director pelo que se está aqui a passar esta semana na Universidade de Verão. É uma forma de comunicar e de acordar a JSD que está adormecida. Não defendemos as nossas causas e por vezes limitamo-nos a criticar e em vez de criticarmos o que é nosso, devíamos trabalhar mais. Até porque, por vezes, os nossos políticos não estão atentos e nós devemos dar sugestões.
Esta semana, tivemos aqui um círculo de conferências muito interessante e tivemos o que de melhor o PSD tem. Desde o Prof. Diogo Lucena, o Engº Carlos Pimenta, o Engº Valadares Tavares e hoje temos aqui dois magníficos Deputados, um do Parlamento Europeu e o Deputado Gonçalo Capitão que ainda está no início de carreira.
Tendo aqui o binómio Parlamento Europeu/Assembleia da República, qual é a diferença na forma de comunicação na AR e no PE? Onde é que os nossos Deputados estão em melhor comunicação apesar da diferença quantitativa?
E onde é que se sente mais a disciplina partidária. É no Partido Social-democrata ou no Partido Popular Europeu?
Deputado Carlos Coelho
Hélder, duas coisas diferentes: primeiro começou com uma referência ao discurso da Jota. Acho que é muito saudável estarmos sempre insatisfeitos com aquilo que temos e queremos fazer melhor. É a única forma de progredirmos, acho que a critica construtiva é essencial. Mas tenhamos em atenção, nem sempre aquilo que se faz é aquilo que aparece. Eu passei pelo lugar que o Jorge Nuno desempenha hoje e confirmo-vos que a comunicação social olha para a JSD sempre assim A JSD só é noticia na comunicação social quando bate no PSD.
As iniciativas com muito valor e muito interesse que não “beliscam” o poder, nunca são notícia. A imagem pública da acção da Jota é deformada, sempre o foi ao longo dos anos e é por isso que são mais importantes os canais de comunicação internos que podem e devem ser melhorados.
Mas vamos ser claros, a imagem pública é sempre deformada.
Segunda questão, diferenças entre Parlamento Europeu e Assembleia da República. Desde logo a proximidade. Vocês têm muita informação sobre a Assembleia da República e não têm nenhuma sobre o Parlamento Europeu.
Só quando há um escândalo é que surge uma notícia. Já disse isto várias vezes em diferentes sítios, (aconteceu comigo e com outros também), gravar peças para a televisão, (pública e privadas) e os jornalistas virem ter connosco a dizer que a direcção de informação não seleccionou este assunto porque houve um assunto mais interessante. O Carlos Cruz sai da penitenciária e é meia hora de telejornal.
Se bem se lembram, quando da sua libertação houve um canal com três jornalistas no terreno: um na penitenciária, outro em casa e outro noutro ponto de reportagem. Na altura (por um erro de gestão) passaram a emissão para a casa do Carlos Cruz onde estava uma repórter e o pivot do telejornal perguntou-lhe: “Então, o Carlos Cruz já chegou a casa?” e a repórter diz “Não, o Carlos Cruz ainda não chegou aqui mas já chegou o cão do Carlos Cruz e de quem o Carlos Cruz é muito chegado e que está a sofrer com a ausência do dono. Acabou de chegar com o seu veterinário”. E via-se a carrinha do veterinário e estivemos um minuto e meio a ver isto.
Devo dizer-vos que nessa altura eu não queria ser Deputado Europeu, eu queria ser o cão do Carlos Cruz. (RISOS)
A principalmente diferença é a proximidade. O Parlamento Europeu está a 2 mil quilómetros de distância e a Assembleia da República está aqui. Há outras diferenças mas não são essenciais. Esta é a grande diferença.
É um Parlamento multinacional, multilingue, com algumas diferenças, mas creio que no essencial esta é a grande diferença.
Jorge Nuno Sá
Daniel Fangueiro.
Daniel Fangueiro
Bom dia.
Eu tive a oportunidade de os ter aos dois no distrito do Porto como oradores.
Referiram a questão de falar bem e todas as técnicas e características que devemos aprofundar para falar cada vez melhor.
Mas todos sabemos que, para as podermos pôr em prática, temos que ter oportunidades e passa-se muito que, no Partido, muitas vezes a JSD, (nomeadamente as pessoas que têm cargos a nível local, regional, distrital) é muitas vezes impedida de intervir, de realizar as suas palavras.
A minha pergunta é: para a evolução e para existirem jovens com capacidade de falar bem para no futuro poderem integrar quadros do PSD, não seria de aumentar as oportunidades de os expor em público. Porque só assim, com alguns erros, se pode melhorar e ver onde se errou para depois fazer bem.
Há uma série de técnicas que não foram aqui faladas, algumas delas esquisitas para se aprender a falar bem. Fala-se muito em treinar em casa frente ao espelho, falar com uma rolha na boca durante 10 minutos e a seguir falar sem a rolha (alguns deviam falar com 5 ou 6 para não dizerem tanta coisa). Estes exercícios não seriam também recomendados e divulgados de uma forma geral para melhorar a dicção?
Deputado Carlos Coelho
Para ser sincero, não sou fã desses exercícios. Acho que o essencial da comunicação é a lógica da mensagem. Supõe uma interactividade. Se eu falo para o espelho estou a falar com a minha imagem - não há mensagem - há emissor mas não receptor. Não creio que seja o melhor sistema.
Acho, Daniel, que aquilo que foi dito é verdade. Nós temos que aumentar as possibilidades de intervenção e desde logo na Jota, vamos ser claros, (e o Daniel tem responsabilidades na Jota), a Jota faz poucos debates internos, muitas vezes afunda-se na lógica interna. Acho que se podem reunir, podem fazer simulacros desta Universidade de Verão.
Pode ser numa concelhia, não tem que ser uma coisa com muita pompa e circunstância, bastam dez pessoas. Se cada um tiver que apresentar um tema, todos se esforçam.
Acho que se tem feito pouco debate, quer na Jota quer no Partido e essa deve ser a principal escolha. O Daniel tem razão: uma pessoa aprende muitas vezes com os próprios erros, a bater com a cabeça na parede e para isso há que ter oportunidades.
Mas não podemos pensar que as primeiras oportunidades são na Assembleia Municipal ou na Assembleia da República: tem que ser desde logo na estrutura da JSD. Por isso fica aqui a sugestão de serem vocês os primeiros a darem a oportunidade internamente para que todos tenham capacidade de intervenção.
Deputado Gonçalo Capitão
Não queria roubar a oportunidade para mais perguntas mas só queria acrescentar uma coisa.
A primeira é que eu não gostava de ser o cão do Carlos Cruz, nem de ser tão chegado ao Carlos Cruz, mas gostava de ser o cão da mulher do Carlos Cruz. (RISOS). Isto é só uma brincadeira para pegarmos no tema. Embora o Carlos já tenha dito o essencial como é, aliás, seu timbre.
Oportunidades para falar de inicio: o pior é que muitos dos jovens, (não é o caso do Daniel), querem começar por ser Deputados. Eu comecei aos 15 anos a falar no núcleo de escola, depois passei para a concelhia da Jota, depois começaram por convidar-me para ir à concelhia do Partido num dos dois lugares da Jota, depois fui aos plenários do Partido (de início assistir depois inscrevia-me para falar). Claro que tremia todo e transpirava que parecia que estava a tomar banho. Agora há jovens que querem começar a jogar futebol no Milan. Isso é só para gente muitíssimo boa ou para a chamada “moda dos independentes”. A moda tem vantagens e desvantagens, porque depois (às vezes) quando os chamamos para fazer corpo connosco numa coisa que defendemos, dizem-nos “não, não, que eu sou independente e isso é outra conversa”.
Agora, os média transmitem a imagem que é fácil ser Deputado, seja porque estamos lá todos a dormir seja porque muitos dizem “eu até fazia aquilo”.
O Carlos há pouco não usou o termo mas eu vou usar (não é o caso do Daniel) mas vê-se por aí muita falta de humildade. Sempre que posso vou assistir aos Conselhos Nacionais da JSD (porque ainda sou Deputado da JSD), vejo os debates que lá se passam e desculpem que vos diga cara a cara: o nível médio é fraquíssimo. Porque vão lá discutir as eleições impugnadas e andarem a impugnar eleições constantemente não lembra ao diabo. Por outro lado, esta é a minha experiência enquanto dirigente da JSD: terminei o meu percurso da JSD, vários anos como Vice-Presidente, era preciso “cacicar” malta para fazer debates sérios, era uma grande chatice, às vezes havia painéis sérios e não tínhamos as condições que hoje há para fazer a Universidade de Verão (ainda bem que hoje é assim), e era preciso ir buscar a “malta” para dentro da sala porque o Pedro Duarte ou eu ou o Jorge Nuno passávamos uma vergonha na mesa porque tínhamos oradores como o Embaixador dos EUA e na sala estão três ou quatro pessoas.
Participar como, se há quem não aproveita as oportunidades que tem? Quantos é que têm coragem para ir ao Conselho Nacional do Partido? Já não falo no Congresso. (Quando tentarem plateias mais complicadas tomem atenção para os agarrarem nos primeiros dois minutos)
Quantos é que têm coragem para chegar lá? Quando se fazem as listas do Conselho Nacional ao Partido toda a gente quer ser mas depois vão para lá e não fazem nada (eu estou a ridicularizar e a JSD tem excelentes quadros e eu não era nada na política sem a JSD) mas a verdade é esta.
Muitas vezes os mais velhos cortam-nos o pio. Muitos acham que a malta da Jota é boa para colar cartazes, encher comícios e distribuir bandeirinhas. Nós temos que ser humildes e começar devagarinho e aguardar que a oportunidade chegue. Toda a gente dizia que eu havia de ser Deputado, eu fui Deputado aos 31 anos, houve quem fosse aos vinte e tal e não desesperei por causa disso, não deixei de participar por causa disso e não me senti particularmente perseguido. É esperar. A anterior liderança do Partido e esta têm particular sensibilidade para a importância da JSD. É preciso humildade e trabalho, Daniel.
Para hoje vos poder dizer estas coisas, tive que estudar muito, podem não ter custado nada mas precisei de “marrar”. Isto não se faz dum dia para o outro.
Às vezes, nas acções de formação da JSD, tínhamos um módulo muito mais modesto que este. O Carlos fez a bondade de aproveitar algumas linhas desse módulo de como falar em público. Era muito empírico, era a nossa experiência da Jota. E alguns (que tinham o mau gosto de apreciar o meu estilo de falar) perguntavam-me: “como é que se fala assim?”. Eu respondia que se estuda muito. Dou-vos uma noção pessoal, nos meus discursos nos Congressos da JSD que algumas pessoas pareciam apreciar, havia uma regra de ouro, (quem me conhece sabe), na sexta à noite não me viam na noite e nos copos. Mesmo que não fosse tirar umas notas, para ter uma sequência lógica, ia dormir.
O conteúdo dava muito trabalho, aquelas brincadeiras sobre o Carrilho e sobre aquelas coisas todas, era preciso ver as notícias do Carrilho era preciso comprar os livros do Carrilho e era preciso trabalhar. As oportunidades surgirão pois há uma coisa que o Partido não nos consegue negar: quando temos qualidade, têm mesmo de nos dar palco. (PALMAS)
Jorge Nuno Sá
Orlando, grupo verde, última questão. Peço desculpa aos 11 inscritos mas o tempo é uma realidade contra a qual não se pode lutar.
Orlando Leal
Eu vou tocar o tema que foi colocado na penúltima pergunta. Do Parlamento Europeu e da comunicação do Parlamento Europeu com os portugueses.
Eu tenho facilidade de ser de um concelho que tem tido eurodeputados (o Dr. Arlindo Cunha e agora o Dr. Silva Peneda) que ainda nos vão transmitindo alguma coisa do que se passa lá. Mas a realidade de que nos apercebemos é que ou temos um blog abrupto e dizemos uns disparates, temos piada e fazemos um mandato e somos ouvidos ou então as pessoas que fazem um bom trabalho sério não passa aqui em Portugal nada daquilo que dizem. Essa dificuldade da mensagem será a causa da abstenção mais elevada face a outras eleições ou mesmo do próprio desinteresse do Partido nas eleições.
Recordo-me, no caso do Porto, que tínhamos na Av. dos Aliados uma fantástica sede com um conjunto de debates de excelentes oradores. E tinha-se que andar em campanha durante o dia e à tarde a ligar para as concelhias a pedir por favor, arranjem-me uma ou duas pessoas se não isto vai estar às moscas e é uma desgraça.
Deputado Carlos Coelho
O Orlando não vai levar a mal que eu não lhe dê uma resposta muito extensa porque o tempo não permite.
A reflexão sobre o grau de distância e o grau de indiferença dos portugueses e da maior parte dos europeus ultimamente às questões europeias é uma questão que me preocupa por razões evidentes.
Tem diversas causas, algumas delas são internacionais, outras são nacionais e outras são da nossa responsabilidade.
Tenho feito aquilo que posso, com o site e com outras acções, para dar mais informação sobre o PE mas creio que ainda temos que incentivar outro tipo de iniciativas para levar informação. E eu convido a JSD a reflectir. Dêem-nos ideias para ultrapassar este fosso e levar mais informação sobre questões europeias e sensibilizar mais as pessoas, sobretudo jovens, porque para eles é a Europa é essencial e determinante.
Pela minha parte gostei muito de estar convosco, de acordo com as regras o Gonçalo e eu vamos sair mas queria só dar-vos algumas informações breves.
Primeiro, acho que já vos foi distribuído um texto com os tópicos das intervenções que é sempre bom terem em texto.
Durante a tarde de hoje estará disponível na Intranet quer o Power Point quer os filmes todos de suporte ao Power Point e mais um ou dois que não cheguei a apresentar e vocês poderão fazer o download.
Agradeço-vos, e especialmente ao Gonçalo, toda a colaboração que deu. Ele disse há pouco que era preciso ter humildade: vocês podem não se aperceber disso mas não é normal em qualquer país europeu que um Vice-Presidente do Grupo Parlamentar da maioria se predisponha a fazer discursos a fingir na Assembleia da República para termos ilustrações de discursos ou que tenha aceite a partida que lhe fiz sem ele saber (aquela candidatura às Presidenciais - terão reparado que eu fiz uma nota de rodapé nos textos para o caso de haver algum documento extraviado não haver um jornalista que interpretasse isso de outra maneira).
Quem quiser ver esta a estrutura (REFERÊNCIA À ENCENAÇÃO DE PALCO) pode subir aqui acima e ver como funciona e pesá-la. É com ideias simples que se faz a eficácia da mensagem em termos profissionais.
Têm agora trabalhos de grupo muito breves sobre aquilo que nós fizemos. O almoço é às 13h30 e às 3 horas reunimos para a Simulação de Assembleias.
Jorge Nuno Sá
Permite-me só uma última nota. Nós na Universidade de Verão temos dito que temos os melhores conferencistas e hoje deram a entender que seria uma Sessão com menos importância: usávamos a prata da casa. Mas ficou provado que a prata da casa é muito boa e temos dois excelentes oradores connosco. Muito obrigado Carlos, muito obrigado Gonçalo. (PALMAS)
Não vejo incompatibilidade em ter humor, boa disposição, ter sentimento e fazer a política. O circo é o Avelino Ferreira Torres e outros que tais mas isso não é fazer política. Há um limite para o humor geralmente ditado por uma coisa: o bom senso.